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Exposição Temporária

O HUMOR UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO

Os cartoons da Revolução (1974-1976)

18 de Dezembro de 2024 a 9 de Março de 2025

O Museu Bordalo Pinheiro inaugura no dia 17 de dezembro, pelas 18h30, a exposição O humor unido jamais será vencido: os cartoons da Revolução (1974 – 1976), a qual se integra nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974.

Partindo, na sua maioria, de desenhos publicados na imprensa da época por autores tão representativos como António, Cid, João Abel Manta, José Vilhena, Sam e Vasco, esta mostra, longe de pretender ser exaustiva, procura lançar um olhar bem disposto sobre um período agitado da História de Portugal através da exibição de cartoons selecionados da vasta obra gráfica de artistas que aproveitaram o fim da censura para mostrar outros ângulos de observação, simultaneamente críticos e divertidos, sobre os acontecimentos de que eram testemunhas privilegiadas.

Num mundo que não conhecia a internet, os jornais viram reforçado o seu papel como um dos canais, não apenas de informação, mas também de divulgação de uma realidade política e social nova e em acelerada mutação. No seguimento de uma tradição que em Portugal remonta a meados do século XIX e que seria reforçada no trabalho de Rafael Bordalo Pinheiro, o patrono do museu, os cartoons de imprensa, enquanto instrumento de reflexão do mundo que nos rodeia, libertaram-se dos espartilhos que condicionavam o humor até então. Praticamente, todos os periódicos de referência passaram a publicar desenhos satíricos com grande regularidade, consolidando ou fazendo despontar a carreira de autores mais ou menos conhecidos dos seus leitores.

Cartoon de João Abel Manta.

O golpe de Estado ocorrido em 25 de Abril de 1974 e o processo revolucionário então iniciado caracterizaram-se, entre outros aspetos, pelo aparecimento no espaço público de uma nova elite política, onde civis e militares, protegidos pelo fim da censura e por uma liberdade de expressão nunca antes experimentada, procuravam afirmar-se em oposição às ideias e aos protagonistas do regime deposto. Um outro caminho para o país implicava uma liderança diferente. A Revolução significava mudança não apenas de opiniões, mas também de atores políticos. Novas figuras tornaram-se conhecidas, revelando-se um alvo fácil da zombaria dos cartoonistas. Ninguém seria poupado: antigos governantes até então intocáveis, presidentes da República, chefes de governo, ministros, deputados, membros do Conselho da Revolução, empresários conhecidos todos seriam alvo preferencial da sátira que passou a inundar as páginas da imprensa da época. O primeiro núcleo da exposição denominado “Os protagonistas da Revolução” pretende mostrar algumas das imagens desses personagens escrutinadas através do olhar crítico do humor gráfico.

Cartoon de José Vilhena.

O contexto internacional é também ele explicativo. Em plena Guerra Fria, Portugal manteve-se no centro das atenções externas. Até então era o arrastar dos conflitos militares em África que prendia os olhares das potências mundiais. A partir de Abril de 1974, os líderes do mundo Ocidental, encabeçado pelos Estados Unidos da América, e do bloco de Leste, dirigido pela União Soviética, passaram a observar os acontecimentos revolucionários em Portugal como um redobrado interesse, imaginando o país como um de balão de ensaio onde se poderiam experimentar novas soluções políticas e sociais.

Cartoon de Cid.

A Revolução libertou o humor editorial e o fim da censura (quase) tudo permitiu. Sem surpresa, a imprensa e os cartoonistas cedo perceberam o apetite dos principais dirigentes alinhados com ambos os blocos pelos eventos que decorriam em Portugal não se poupando na crítica ao aproveitamento da situação por parte de tais intérpretes. O segundo núcleo da exposição designado “Vento de leste vs. vento de oeste” revisita algumas dessas personalidades, que se tornam subitamente conhecidas do grande público, e revela a forma como estas passaram a ser encaradas pelos artistas do desenho humorístico, explorando de forma sugestiva e divertida o seu relacionamento com as novas autoridades revolucionárias.

Cartoon de António.

Comunismo, socialismo, social democracia, democracia-cristã, fascismo, são apenas algumas das expressões ideológicas cuja simples menção era proibida no país da PIDE e da censura, eufemisticamente transformadas em Direcção-Geral de Segurança e Exame Prévio no início do governo de Marcello Caetano. Com a Revolução e a imediata restauração da liberdade de expressão, todos os conceitos políticos passaram a ser admitidos, uns, e altamente criticados, outros. Naturalmente, a imprensa aproveitou esta abertura para reforçar o seu papel de veículo privilegiado de difusão e discussão de concepções governativas até então impossíveis de concretizar. Se os periódicos eram um dos instrumentos preferenciais utilizados pelos revolucionários para a emissão de propaganda e a divulgação de ideologias anteriormente interditas, os cartoonistas encontraram na sátira editorial o terreno preferencial para se afirmar simultaneamente enquanto vulgarizadores e críticos das novas ideias que passaram a inundar um espaço público em profunda transformação. O último núcleo intitulado “Propaganda e ideologia” aborda alguma das formas satíricas exploradas pelos jornais da época para dar expressão gráfica a essa explosão propagandística e ideológica.

Cartoon de Sam.

Esta exposição procura reforçar junto do público o papel do cartoon editorial, aqui considerado no seu sentido mais amplo, enquanto ferramenta de reflexão sobre um determinado período histórico. Pretende-se dar a compreender o cartoon não como mera ilustração de uma qualquer realidade, mas também, e sobretudo, como uma linguagem dotada de um código próprio e autónomo de desconstrução dessa mesma realidade, afirmando-se por essa via como uma fonte de conhecimento, simultaneamente informativa, formativa e já agora…divertida.

Caricatura de Vasco.

Inauguração
17 de dezembro de 2024, 18h30 (entrada livre)

Duração
18 dezembro de 2024 a 9 de março de 2025

Comissariado
Paulo Jorge Fernandes

Organização
Museu Bordalo Pinheiro

Informações
bilheteira@museubordalopinheiro.pt

Apoio
Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abri

Apoios (inauguração)
A Casa do Arrabidine
ANEBE – Associação Nacional de Empresas de Bebidas Espirituosas