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Voltar à página anterior. Autorretrato

Na obra multifacetada de Rafael Bordalo Pinheiro – desenhador humorista, ceramista e decorador – a autorrepresentação é um tema imaginoso e invulgarmente fértil no contexto da história da arte portuguesa. Ao autorretratar-se em mais de meio milhar de páginas dos seus periódicos, o artista vai construindo a sua individualidade. Pontualmente, ainda a autorrepresentação tomou forma na cerâmica caldense.

O seu rosto e o seu corpo sofrem múltiplas modificaçoes caricaturais, espelhando as emoções e, sobretudo, colocando-se ao serviço do humor. O artista chega a metamorfosear-se em diversas formas de animal ou de objecto que ajudam a definir a sua identidade. Estas transformações resultam quase sempre numa alteração da dimensão real, tornando a escala num motivo cómico. O tempo está presente, através do dispositivo “antes e depois” e do consciente envelhecimento da “personagem”. O notável duplo autorretrato, “Vinte Anos Depois” (1903) faz a síntese gráfica de um longo autoconhecimento, físico e psicológico.  

Jarra dedicada a Dr. Pitta, Rafael Bordalo Pinheiro, 1888

Publicado em Pontos nos ii, 10 .04.1890