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Rafael Bordalo Pinheiro Cronologia

1846

Filho de Augusta Maria do Ó Carvalho Prostes e de Manuel Maria Bordalo Pinheiro, Rafael Augusto Bordalo Prostes Pinheiro nasce a 21 de março, na Rua da Fé, em Lisboa, na casa do seu avô materno.

Era o quarto filho de 12. Apenas 9 chegaram à idade adulta.

1847

Rafael vem a fundar a Sociedade da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, em 1884, com este seu irmão, Feliciano Henrique Bordalo Pinheiro.

1857

Também artista, Columbano veio a destacar-se na Pintura e fez parte do Grupo do Leão, tal como Rafael

Inicia estudos no Liceu das Merceeiras, em Lisboa. Nesta altura, Rafael já revelava um forte interesse pelo desenho e pela pintura.

1860

O Teatro foi uma das paixões de Rafael.

Matricula-se no curso de Arte Dramática na Escola fundada por Duarte de Sá, transferida do Teatro D. Maria II para o Conservatório, em 1860.

Com 14 anos, estreia-se como ator amador no Teatro Garrett, na Travessa do Forno, aos Anjos, e no Teatro Thalia, na Costa do Castelo, em Lisboa.

1861

Inscreve-se em Desenho de Arquitetura Civil na Academia de Belas-Artes de Lisboa.

Tomás vem a especializar-se como desenhador mecânico, tornando-se professor de Desenho no Instituto Superior Técnico. Dirigiu a Biblioteca de Instrução Profissional, que publicou livros com ilustrações de Rafael.

1862

Matricula-se em Desenho Histórico e Desenho de Arquitetura Civil na Academia de Belas-Artes.

1863

Com 17 anos, contracena com o cunhado Henrique Lopes de Mendonça na peça “Homem Distraído”, no Teatro Garrett, em Lisboa.

Começou a trabalhar na Secretaria da Câmara dos Pares do Reino através da intervenção do pai, que ali foi 1º Oficial.

Todavia, o interesse pelo desenho intensificou-se, levando-o a pedir sucessivas licenças sem vencimento até que a 19 de março de 1880 pede a exoneração do cargo.

1865

Frequenta o curso de Desenho Antigo na Academia de Belas-Artes de Lisboa.

Inscreve-se no Curso Superior de Letras, que depois vem a abandonar. Aqui faz caricaturas de professores, feitas com ponta de charuto queimado nas paredes dos claustros do Convento de Jesus.

Algumas das caricaturas foram, posteriormente, retomadas nas águas fortes d’ O Calcanhar de Aquiles.

1866

A 15 de setembro, casa com Elvira Ferreira de Almeida, em litígio com os pais da noiva que não aprovavam esta união. A lua de mel é passada na Quinta da Broa, na Golegã, que pertencia ao seu padrinho.

Primeiros desenhos a carvão e aguarela de cenas campestres, tendo como inspiração motivos e ambientes rurais do Ribatejo.

Participa no círculo das “Conferencias Scientificas, Literárias e Históricas”, que reunia familiares e amigos do pai em serões artístico-musicais na Praça da Alegria e na Casa de Alcolena, situada na rua da Correnteza, na freguesia da Ajuda, onde a família passava o verão.

Retoma a frequência do curso de Desenho Antigo, na Academia de Belas-Artes até ao ano seguinte.

1867

A 20 de junho, nasce o primeiro filho, Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro.

Mais tarde, Manuel Gustavo irá colaborar em várias vertentes do trabalho do Pai, desenvolvendo também a criação de obra gráfica e cerâmica com um estilo próprio.

1868

Inscreve-se como membro da Sociedade Promotora de Bellas Artes em Portugal, participando nos salões expositivos até 1874 com estudos a aguarela.

Em Novembro, é reconhecido pela Sociedade Promotora de Bellas Artes em Portugal com uma Menção Honrosa em Pintura a Aguarela, que só lhe é formalmente entregue em Maio de 1870.

1869

Matricula-se no Curso de Desenho de Modelo Vivo na Academia de Belas-Artes.

Desenha o cabeçalho do jornal O Japonês  e a capa da Crónica dos Theatros.

Com grande sucesso, faz caricaturas de figuras públicas satirizadas nos sonetos publicados no jornal Revolução de Setembro, de Rodrigues Sampaio.
Começa a nascer o projeto do Calcanhar de Achilles.

Desenho em família com data de 28 novembro, dia de aniversário do pai, Manuel Maria Bordalo Pinheiro.

1870

Na Sociedade Promotora das Bellas Artes em Portugal expõe pintura em aguarela e desenhos humoristas de tipos populares de Lisboa e do Ribatejo, sobressaindo já o seu gosto pelo cómico e pela arte do riso.

Estreia-se como caricaturista com a publicação da folha volante da comédia O Dente da Baronesa, da autoria de Teixeira de Vasconcelos, apresentada no Teatro do Ginásio, em 1870. Ao centro é representado este dramaturgo.

Publica uma folha solta – Mercado de Melões – com uma caricatura do Marechal Saldanha como General Boum da opereta de Offenbach “A Grã-Duquesa de Gerolstein”.
Trata-se de uma evocação ao golpe militar conhecido por “saldanhada” (18-19 de maio de 1870). O Marechal é representado entre duas vendedeiras de melões, a tia “Consciência” e a tia “Ambição”, escolhendo melões com figuras de políticos da época para ver se lhe servem como ministros.

Publica o álbum de caricaturas O Calcanhar d’ Achilles (maio/junho) evidenciando “a parte vulnerável ou grotesca de cada cidadão caricaturado”. Este álbum é dedicado, preferencialmente, a personalidades do meio das artes e das letras.

A 5 de julho de 1870, publica as primeiras três folhas do jornal A Berlinda, Reproduções de um Álbum Humorístico ao correr do lápis, com caricaturas dos políticos da época, em particular do Marechal Saldanha.

Em outubro, lança o primeiro número d’ O Binóculo. Hebdomadario de Caricaturas, Espectáculos e Litteratura, publicação semanal dedicada ao Teatro e à Ópera, com ampla distribuição em salas de espetáculos
Assume como objetivo: “O Binóculo apresenta, não comenta. Analisa, não sintetisa. Mostra os tipos. E de tipos é o nosso século”. Dele apenas se publicariam quatro números, em colaboração com Júlio César Machado e Ramalho Ortigão.

Inicia a colaboração no Almanach de Gargalhadas que perdurará até 1876.

1871

A publicação de A Berlinda é retomada com mais quatro folhas (janeiro a julho).
A proibição das Conferências do Casino é alvo de sátira na última folha.

Com o desenho As Bodas na Aldeia, ganhou uma “Menção Honrosa” na Exposição Internacional de Madrid. Esta obra representa um casamento rural, de família abastada, mostrando os noivos, acompanhantes e curiosos à saída da Igreja.
No ano seguinte, este desenho figurou na Exposição da Sociedade Promotora de Belas-Artes. É um dos raros grandes formatos do artista.

  

Compõe capas e ilustrações para livros, como Paizagens, de Bulhão Pato, e para o Brinde anual do Diário de Notícias.

Em abril, morre prematuramente Augusta, a 2ª filha de Rafael e de Elvira.

Frequenta pela última vez o curso de Desenho Antigo na Academia de Belas-Artes.

1872

Rafael expõe, mais uma vez, no Salão da Sociedade Promotora de Belas Artes composições realistas e tipos populares.

A ilustração Typos de Lisboa. Os Fadistas, feita em 1871, foi apresentada no Salão da Sociedade Promotora de Belas Artes e publicada no álbum A Gravura de Madeira em Portugal, de João Pedroso.

Foi também publicada na obra El Mundo Cómico: Semanário Humorístico e Ilustrado, em 1873, e tem sido alvo de inúmeras reproduções, tornando-se um ícone da história do fado.

Desenha ilustrações, letras ornamentadas e vinhetas para a revista Artes e Letras.

Faz ilustrações para o Novo Almocreve das Petas, de Luiz Araújo.

1873

A 14 de janeiro nasce a terceira filha do casal, Helena Bordalo Pinheiro.

Parte para Espanha como correspondente ilustrador do periódico inglês The Ilustrated London News para documentar a guerra civil espanhola.

Ilustra, em dois fascículos, J. M. ou A Historia Tetrica Duma Empresa Lírica, com vigorosas críticas a uma temporada no São Carlos.

Inicia a ilustração das sucessivas edições do Almanach de Caricaturas (1873/1876).

Ilustra uma série de litografias de retratos-charge de atores portugueses, como José Carlos dos Santos, o “Pitorra”, Francisco Alves da Silva Taborda e Delfina do Espírito Santo.

Entre outras, ilustra as obras O demónio do Ouro, de Camilo Castelo Branco, e A Mulher Adultera, de Enrique Perez Escrich.

1874

Expõe novamente aguarelas de tipos populares no salão da Sociedade Promotora de Belas Artes.

Continua a colaborar na ilustração do Almanach de Caricaturas.

Inicia a ilustração das edições do Almanach de Artes e Letras (1874/1876).

Entre outras, ilustra O Bussaco, de Silva Matos e Lopes Mendes, Scenas de Lisboa, de D. Tomás de Melo, e As obras de Misericórdia, de Enrique Perez Escrich.

1875

A 15 de maio, fundou A Lanterna Mágica, Revista ilustrada dos acontecimentos da semana por Gil Vaz, pseudónimo dos seus colaboradores literários Guilherme de Azevedo e Guerra Junqueiro.
Este jornal terá ainda a colaboração de Manuel de Macedo e de Emílio Pimentel para a ilustração (Artur Loureiro é apenas anunciado), bem como do brasileiro Luís de Andrade (“Júlio Verim”) para alguns dos textos.

O sucesso que o jornal obteve alterou a periodicidade, passando de publicação semanal a diária a partir do número 8.
Foram publicados 33 números até 31 de julho, terminando repentinamente no mês seguinte, com a partida de Rafael para o Brasil.

A Lanterna Mágica propunha-se tratar dos “acontecimentos da semana”, do quotidiano político, cultural e social lisboeta, sendo o teatro um tema recorrente e a caricatura política com humor um forte atributo. Com a passagem a jornal diário, os temas abrem-se ao “panorama do mundo“.

É neste jornal que surge, pela primeira vez, a figura do Zé Povinho.

Nas páginas centrais d’A Lanterna Mágica nº 5, de 12 de Junho, é publicado o primeiro desenho da figura do Zé Povinho, criada pelo artista.

Ilustra a obra Os Theatros de Lisboa, de Júlio César Machado.

Inicia uma nova série de retratos de atores portugueses.

Com Emílio Pimentel, ilustra a obra Pepita Jimenez, de Juan Valera, com tradução portuguesa de Luciano Cordeiro.
Continua a ilustração do Almanach de Caricaturas e do Almanach de Artes e Letras.

Na Maçonaria, é formalmente iniciado na loja Restauração de Portugal, com o cognome de Goya.

Abandona o lugar de escriturário na Câmara dos Pares.

A 19 de agosto, parte para o Rio de Janeiro para trabalhar no jornal brasileiro O Mosquito. Em setembro, inicia a colaboração neste jornal de sátira social e política, que vem a dirigir de 1876 até 1877.

A Questão Religiosa no Brasil, então na ordem do dia, será um dos temas que o artista destaca neste jornal, assumindo posições anticlericais. Também o Teatro e a Ópera terão presença regular neste jornal.

Entre os colaboradores d’O Mosquito, além de Rafael, salientam-se Cândido Aragonês de Faria e Antônio Alves do Valle de Sousa Pinto, as trêz graças.

É n’O Mosquito, a 18 de dezembro, que Rafael cria a personagem “Manel Trinta Botões”, imigrante português no Brasil.

No Rio de Janeiro, instala-se inicialmente no Palacete Faro e Oliveira até se mudar para a Rua Nova das Laranjeiras com mais onze amigos que se autodenominavam Grupo da República das Laranjeiras.

Em setembro, juntar-se-lhe-á a mulher Elvira e a filha Helena, deixando o filho Manuel Gustavo em Lisboa com o avô.

Contrai febre amarela, doença que, em finais do século XIX, se tornou epidemia no Brasil.

1876

No Rio de Janeiro, assume a direção do jornal O Mosquito até 1877.
Neste periódico, inicia-se a polémica com o caricaturista brasileiro Ângelo Agostini.

A partir de janeiro de 1876, a assinatura de Rafael Bordalo Pinheiro está cada vez mais presente no jornal, inclusive nas primeiras páginas. No cabeçalho apareceu “Mosquito”, personagem-título do periódico, vestido como um arlequim. A composição gráfica foi também alterada pelo artista passando a página a ter vegetação exuberante, animais, aves, indígenas, mulheres e outros elementos, quase todos lendo o jornal humorístico.

Em setembro, a morte de sua mãe deixa-o profundamente abalado.
Em homenagem, dedica o desenho Páginas Íntimas ao pai, Manuel Maria Bordalo Pinheiro. A gravura foi publicada no jornal O Mosquito a 16 de setembro de 1876.
A ilustração evoca a representação idílica de um casal, com uma criança, numa varanda sobre paisagem do Rio de Janeiro, onde o artista, sua mulher Elvira e a filha Helena se encontravam a viver. Cenas familiares meio desvanecidas compõem o conjunto no lado superior direito.

Com ilustrações do artista, o Album de Caricaturas, Frases e Anexins da Língua Portuguesa, editado em Lisboa, com prefácio de Júlio César Machado, suscita muito interesse.

1877

A 24 de maio, foi publicado o último número d’O Mosquito.

Ainda no Rio de Janeiro, a 15 de setembro, lança o Psit!!! Hebdomadario comico illustrado por Bordallo Pinheiro, tendo sido publicados nove números até 17 de novembro.
A ópera, o teatro, os touros e, raras vezes, a sátira política, eram os temas principais deste periódico.
Na primeira página convidavam-se os leitores: “Psit!!! Psit!!! Psit!!! Sim venhão cá, venhão morrer de riso!”
O cabeçalho tinha uma composição tropical com flores exóticas, um papagaio, um mosquito e outras figuras, incluindo um autorretrato de Rafael Bordalo Pinheiro com chapéu alto, sobre um porta-lápis, junto a um gato e a um arlequim.

O Psit e o Arola são duas personagens criadas neste jornal pelo artista.

Nas páginas deste jornal, é assumida a polémica que Rafael mantinha com Ângelo Agostini.

1878

A 6 de abril lança O Besouro, “folha ilustrada humorística e satírica”, dedicado à política e aos interesses culturais do artista, como o Teatro, a Música e a Ópera. Tal como em Portugal, figuras da política e da sociedade brasileira serão alvo da ferroada deste periódico. Na capa do nº 1, o artista autorrepresenta-se a conduzir um grande besouro.

São vários os colaboradores literários d’O Besouro, salientando-se José do Patrocínio e Arthur Azevedo, brasileiros, e Alfredo Camarate e Tomás Lino de Assumpção, portugueses.

Este foi o último jornal que Rafael publicou no Brasil, sobrevivendo até 8 de março de 1879, contando com  quarenta e nove números.

No número 37 cria a personagem Fagundes, representando de forma negativa os políticos brasileiros.

1879

Após o encerramento do jornal O Besouro, regressa do Brasil a 29 de abril.
Quando chega a Lisboa, é obrigado a ficar em quarentena no Lazareto, edifício situado em Porto Brandão, na margem sul do Tejo, destinado a acolher pessoas e objetos que vinham de lugares ameaçados por epidemias ou doenças contagiosas.

A 12 de junho, lança o semanário O António Maria, jornal humorístico que usa a sátira e a ironia para fazer crítica política e social.
Logo no primeiro número, o editorial anuncia que o jornal “fará todas as diligências para ter razão, empregando ao mesmo tempo esforços titânicos para, de quando em quando, ter graça […] não tem outro remédio, na maioria dos casos, senão ser opposição declarada e franca aos governos, e opposição aberta e systematica ás oposições”. A classe política e intelectual da época é caricaturada com humor, com enfoque em algumas personalidades, como António Maria Fontes Pereira de Melo, chefe do Partido Regenerador, que inclusive dá o nome a este periódico.
Na ilustração da primeira página, observam-se diversas personagens nascidas noutros jornais – Zé Povinho, Psit, Fagundes e Arola –, Guilherme de Azevedo (Rialto), colaborador literário, junto a outra figura de costas, possivelmente o próprio artista, a dar ao fole, de onde saem duas figuras esfumadas, e em baixo uma “dama” a ler o jornal.
A 1ª série do jornal foi editada entre 1879 e 1885.


Em novembro, são lançados os charutos “António Maria” pela fábrica La Vuelta Abajo: “Ora até que afinal já fazemos fumar!” ressalta o jornal.

1880

A 31 de janeiro, morre Manuel Maria Bordalo Pinheiro, seu pai.

A partir de 1880 e até 1902, Rafael Bordalo Pinheiro publica, com intermitências, um Álbum das Glórias, em folhas de edição avulsa, que constituem um importante catálogo de figuras proeminentes da política, da sociedade, dos espetáculos e da literatura portuguesas. Foi publicado em três séries, perfazendo um total de 42 folhas.

As gravuras são acompanhadas de textos de Guilherme de Azevedo (“João Rialto”), Ramalho Ortigão (“João Ribaixo”), Barbosa Cohen (“Ri-bomba”), João Chagas (“João Rimanso”), Júlio Dantas (“Rufo”), D. João da Câmara (“João Evangelista”), do próprio Rafael Bordalo Pinheiro (“Rafael Rimuito”) e ainda de “João Ripouco”, autor não identificado.

Integra o Grupo do Leão, que reunia artistas na Cervejaria Leão de Ouro, em Lisboa, discutindo ideias que rompiam com o panorama artístico da época.

Este Grupo, que Columbano imortalizou num quadro de 1885, organizava exposições de vanguarda, apresentando temas do quotidiano e cenas campestres, afirmando a pintura naturalista em Portugal.

A 19 de março é formalmente exonerado do lugar que detinha na Câmara dos Pares.

Em setembro, Ramalho Ortigão (Ribaixo) inicia a colaboração literária no jornal O António Maria, substituindo Guilherme de Azevedo (Rialto), que parte para Paris.

1881

Faz ilustrações para o Almanach Bijou 1881 oferecido como publicidade pela casa de tabacos Havaneza, situada no Chiado, em Lisboa.

A 6 de janeiro, no editorial do primeiro número do ano d’O Antonio Maria, é assumida a missão crítica, a liberdade de pensamento, de espírito e de opinião do jornal humorístico.

A obra No Lazareto de Lisboa remete para o período em que o artista esteve neste local, em quarentena, devido ao risco de propagação da febre amarela. Nesta publicação, profusamente ilustrada, recorda com saudade peripécias no Brasil, a viagem de barco, a sua Lisboa e regista, com humor, os dias de penitência no edifício do Lazareto.

Colabora nos três números de O Voto Livre, de Magalhães Lima e Manuel de Arriaga.

A 27 de outubro, publica uma referência a Maria Visconti no Teatro da Trindade.

A Fábrica Indústria Nacional à Pampulha, de Eduardo António da Costa, pintor decorador, republicano e amigo do artista, lançou os “Biscoitos O Antonio Maria” dedicados a este jornal.

Os biscoitos tinham a forma de dezasseis caricaturas comestíveis da comédia bordaliana, com a efígie de rivais políticos, a família real, o Zé Povinho e o próprio Rafael. A embalagem dos biscoitos foi feita pelo artista com as suas ilustrações, o título e lettring do jornal. A 29 de dezembro é publicado o anúncio aos biscoitos n’ O António Maria.

1882

Em março, vai pela primeira vez a Paris, onde esteve com o seu amigo Guilherme de Azevedo, antigo colaborador literário do jornal O António Maria, que morreria no mês seguinte.

A 6 de abril, publica A Ceia de Zé, inspirado na “Última Ceia” de Leonardo da Vinci.

Rafael Bordalo Pinheiro representa Zé Povinho no lugar de Jesus Cristo e  os membros dos dois principais partidos políticos como apóstolos. Na mesa, em frente ao Zé, destaca-se uma travessa de impostos.

Esta gravura foi alvo de processo em tribunal, tendo Bordalo sido acusado de profanação de imagem religiosa. O artista acabaria por ser absolvido.

A 20 de abril é dedicado um número especial de O Antonio Maria a Sara Bernard, que atuou no Teatro do Ginásio.

Em finais de abril, após a saída de Ramalho Ortigão, tem início a colaboração literária de Alfredo Morais Pinto, Pan-Tarantula, no jornal O António Maria.

Em novembro, parte uma perna, autorrepresentando-se no jornal O António Maria em várias situações com esta limitação que interfere na sua vida social e cultural.

1883

A 25 de janeiro, o artista autorrepresenta-se no Tribunal da Boa Hora a propósito dos problemas que tinha com a justiça por ter assobiado publicamente a Marselhesa e pelo desenho d’ A Ceia de Zé publicado no jornal O António Maria. Com esta gravura, brincava ser mais proveitoso estabelecer um quiosque no pátio do Tribunal para facilitar a vigilância do jornal.

A 22 de março, publica Ceia de António, como reação à acusação sobre a gravura A Ceia de Zé que saiu no jornal O António Maria no ano anterior.

Rafael Bordalo Pinheiro, enquanto responsável pelo jornal, autorrepresenta-se no lugar de Cristo, como vítima da acusação que o levara ao Tribunal da Boa-Hora.

Desta forma, reage à censura e defende a liberdade de expressão, intensificando o humor e o sarcasmo nas respostas aos ataques de que era alvo.

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Ilustra a obra O Real Teatro de São Carlos, de Francisco da Fonseca Benevides.

O Projecto de uma Fábrica Nacional de Faianças das Caldas da Rainha, de Feliciano Bordalo Pinheiro (irmão de Rafael) e de Felisberto José da Costa, é impresso em Lisboa.

Rafael Bordalo Pinheiro é convidado a ser o diretor técnico da fábrica.

A 24 de outubro, são aprovados os Estatutos da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, registados em escritura pública só em junho do ano seguinte.

Início da colaboração artística de Columbano, de forma anónima, no jornal O António Maria até 1884. Fez retratos de escritores, atores e outras figuras que Rafael Bordalo Pinheiro finalizava.

1884

Na primeira página do ano do jornal O António Maria, o artista publica um discreto autorretrato no seu local de trabalho. A decoração exuberante ressalta o gosto e a criatividade do seu ambiente.

Início da colaboração de Manuel Gustavo no jornal O António Maria com o desenho “Inda é noite…”, publicado a 1 de maio. Na mesma página, o artista salienta o filho desta forma: “Apresentamos ao público em geral, e aos leitores do Antonio Maria em particular o nosso morgado, como lá se diz, o herdeiro presuntivo da nossa glória e dos nossos bonecos, a carne da nossa carne e o lápis do nosso lápis“.

Desde então, Manuel Gustavo continuou a desenhar nos jornais de humor do pai, afirmando-se no jornal Pontos nos ii a partir de 1887, com a publicação de páginas inteiras dedicadas ao cartoon político.

Faz experiências de cerâmica na Fábrica de Sacavém e na Fábrica de Francisco Gomes de Avelar, nas Caldas da Rainha. Os pratos pintados neste período são um exemplo.

Em junho é criada a Sociedade Anónima da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha com o irmão Feliciano. Rafael Bordalo Pinheiro assume a direção artística da fábrica.

Construção do complexo fabril das Caldas. Em setembro tem início a produção de materiais de construção.

Expõe no Salão da Promotora de Belas-Artes as primeiras produções de cerâmica executadas na Fábrica de Sacavém.

Em outubro, com o irmão Feliciano, faz viagens de estudo a indústrias de cerâmica em Inglaterra, França e Bélgica para conhecerem ferramentas, maquinaria e inovações técnicas. Algumas das fábricas visitadas são mencionadas num bloco de desenhos do artista: Vieillard, Choisy-le-Roi, Sévres (França), Doulton, Brown-Westhead, Moore & Cie., Longport Davemport (Inglaterra).

As Bengalas “António Maria” começam a ser comercializadas por Albino Baptista na Rua Nova do Almada.

1885

Publica a 2ª série do Álbum das Glórias, cujas estampas saem nos primeiros números de Janeiro d’ O António Maria.

No ano anterior, o governo tinha lançado uma reforma do código penal com um forte impacto na liberdade de Imprensa, merecendo comentários do artista à “lei das rolhas” nas edições de abril do jornal O António Maria.

A 21 de janeiro, como protesto, termina a publicação do jornal:

Quando na reunião dos jornalistas propuz que as redacções de todos os periódicos fechassem por oito dias as suas portas, em desaggravo da vergonhosa situação em que o governo havia collocado a imprensa portugueza, alguém sorrio, lembrando-se que o ANTONIO MARIA, como folha semanal, em nada prejudicaria os seus interesses com essa resolução. Já vêem que levo mais longe a execução da minha proposta: o ANTONIO MARIA fecha as suas portas em signal de luto, e fecha-as para sempre.

A 7 de maio lança o jornal semanário Pontos nos ii, publicado até 5 de Fevereiro de 1891, altura em que é suspenso pela ousadia da crítica política e social.

Na apresentação do jornal, é Maria da Paciência quem põe os pontos nos ii e promete rir, rir sem descanso, de boca escancarada ate ao cavernante, de todos os mil grotescos que por ai fervilham como formigas num açucareiro.

A publicação deste jornal tem lugar entre a 1ª e a 2ª série de O António Maria.

Faz ilustrações para as obras A Lusa Bambochata, de Joannico C. Mila, Memórias de um sapatinho, de autor anónimo e edição de Thomaz de Mello, A Revolta, de Magalhães Lima, e Beja Creche, de Abel da Silva e outros, e para o periódico Ilustração Universal.

Colabora no Álbum do Actor Santos, com uma coletânea de ilustrações relativas ao Teatro e a diversos atores.

Desenha as gravuras da obra Do Outro Lado com texto do seu colaborador literário Alfredo de Morais Pinto (Pan-Tarantula).

Sob a direção do artista, em junho teve início a produção de louça decorativa na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha.

Rafael faz um painel decorativo de azulejos para a Cervejaria Leão de Ouro, situada em Lisboa, na atual rua 1º de Dezembro, na altura rua do Príncipe. O painel, imitando o azulejo português a azul e branco, retratava o grupo de artistas que ali se reunia.

O irmão Columbano pinta O Grupo do Leão também em 1885, um quadro que hoje pertence ao Museu Nacional de Arte Contemporânea-Museu do Chiado.

Em outubro tem lugar um banquete oferecido pela Sociedade de Geografia aos exploradores Capelo e Ivens, no restaurante do Jardim Zoológico de Lisboa. O artista publicou no jornal Pontos nos ii uma ilustração dedicada ao acontecimento.

1886

Em fevereiro, tem lugar a primeira exposição pública em Lisboa da cerâmica da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, no edifício do Comércio de Portugal, situado na rua Ivens.

A 22 de maio teve lugar o casamento entre o príncipe D. Carlos, Duque de Bragança, e D. Amélia de Orleães, princesa de França. Com humor, a festa e a sua preparação foram noticiadas nos Pontos nos ii.

Por essa altura, Rafael desenhou um leque comemorativo da Festa da Indústria Portuguesa incluindo uma evocação à união os príncipes.

Em junho, abre o depósito e loja de vendas de peças de cerâmica da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha na avenida da Liberdade.

Dá início à produção de esculturas representando a Via Sacra para as Capelas do Buçaco.

Faz trabalhos de decoração para o Palácio do Conde de Valenças, Luís Leite Pereira Jardim.

Situado em Lisboa, este Palácio foi transformado, em 1988, no Hotel da Lapa e, em 1992, no Lapa Palace.

Em agosto, a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha recebe a visita da rainha D. Maria Pia e do ministro das Obras Públicas, Emídio Navarro.

Em resposta à polémica que motivou a suspensão do jornal O António Maria, recusa a comenda da Ordem de São Tiago que lhe foi atribuída pelo rei D. Luís.

Faz a capa da obra Contos Modernos – Mais Uma, da autoria do Conde de Ficalho.

1887

Colabora n’ A Ilustração e em diversas obras: Contos Modernos; No Tejo, publicação de caridade dedicada às famílias dos náufragos do vapor francês “Ville de Victoria”, O Theatro Portuguez no Brazil, de Jayme Victor, e Meios de Transporte, de Alfredo de Morais Pinto (Pan-Tarantula).

Faz uma homenagem a Fontes Pereira de Melo no jornal Pontos nos ii.

Produção de louça decorativa de inspiração naturalista na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha.

1888

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Faz uma exposição de cerâmica decorativa no Ateneu Comercial do Porto, que foi alvo de notícia n’O António Maria, de 2 de fevereiro de 1888.

Instala-se com a família nas Caldas da Rainha.

O artista na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha com os seu pessoal menor (aprendizes).

Rafael Bordalo Pinheiro com o seu pessoal maior (mestres e alguns oficiais).

Em junho, a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha recebe um diploma de medalha de ouro na Exposição Industrial Portuguesa.

Em agosto, com a inauguração de máquinas e fornos para fabrico de louça utilitária na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, dá-se início à sua produção e à abertura da escola profissional.

A notícia foi publicada nos Pontos nos ii.

Viaja com o irmão Feliciano a França, Bélgica e Inglaterra para visitar indústrias de cerâmica.

Em setembro, o artista sofreu de um antraz (infeção bacteriana no pescoço). No jornal Pontos nos ii publica desenhos humorísticos sobre esta doença.

Em conjunto com outros médicos, o Dr. Pitta, médico de família, ajudou a tratar a sua infeção no pescoço. Como agradecimento, dedica-lhe uma jarra com um autorretrato em que se representa com bata de ceramista e metade do corpo transformado em peixe.

1889

O seu irmão Manuel Bordalo Pinheiro foi um dos médicos que tratou a infeção no pescoço. Como agradecimento, em janeiro oferece-lhe um prato em faiança, pintado com um autorretrato e caricatura do irmão.

O ano de 1889 começou com a perspetiva dos trabalhos a realizar em Paris, como anuncia, desde logo, o primeiro número de janeiro do jornal Pontos nos ii.

O artista é convidado a fazer a decoração do Pavilhão de Portugal na Exposição Universal de Paris.

Em março, Fialho de Almeida, sob o pseudónimo Irkan, começa a colaborar nos textos do jornal Pontos nos ii.

A 9 de agosto é feita uma homenagem a Rafael Bordalo Pinheiro no Chat Noir, numa em soirée oferecida por Rodolphe Salis, fundador e proprietário deste cabaré no bairro de Montmartre, em Paris.

Na Exposição Universal de Paris, o artista recebe uma medalha de ouro e uma medalha de prata, em reconhecimento do seu trabalho, da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha e da exposição de faianças.

A 30 de outubro, o artista recebe o Grau de Cavaleiro da Legião de Honra do governo francês como reconhecimento do seu trabalho de decoração do pavilhão português na Exposição Universal de Paris.

O jornal Pontos nos ii publica uma edição especial dedicada à Exposição Universal de Paris.

Neste jornal, é também publicado um suplemento extraordinário alusivo à Exposição de Paris. O Pavilhão Portuguez do Quai d’Orsay.

1890

A 11 de janeiro, o Reino Unido lança um ultimato a Portugal para que fossem retiradas as forças militares dos territórios entre Angola e Moçambique, sob o seu domínio colonial. A cedência do Governo português a esta exigência, com o apoio do rei D. Carlos, gerou indignação, reações nacionalistas e antibritânicas e a contestação da Monarquia.
Rafael Bordalo Pinheiro também reagiu de diversas formas, quer através de desenhos no jornal Pontos nos ii, quer de peças em cerâmica, alimentando a campanha contra Inglaterra.

Um exemplo é a publicação do desenho de Zé Povinho a expulsar vários John Bull nos Pontos nos ii.

Na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, cria o penico “John Bull” e uma caixa alusiva ao Ultimato Inglês, cujos modelos foram reproduzidos.

Colabora n’ O Occidente e faz capas e ilustrações para diversas obras, como A Ruína de Inglaterra, de Camilo Debans, e Anátema, de Antero de Quental e outros.

Publica no livro Bismarck en caricatures.

1891

A 5 de fevereiro, publica o último número do jornal Pontos nos ii.

A 5 de março é publicado o primeiro número da 2ª série d’O António Maria que continuará até 1898.

No editorial de abertura desta série, Bordalo justifica a interrupção deste jornal desta forma: O Antonio Maria esteve interrompido durante alguns annos por muitas e complicadissimas razões de familia, que as conveniencias policiaes e a razão d’ Estado não permittem que nós tornemos publicas…

Termina a colaboração de Alfredo Morais Pinto, Pan Tarantula, e tem início a de Eugénio de Castro, com o pseudónimo Eu.

Retrato do artista pintado pelo seu irmão, Columbano Bordalo Pinheiro.

Em 1920, o quadro foi legado, em testamento, ao Museu Bordalo Pinheiro por Manuel Gustavo, filho de Rafael Bordalo Pinheiro.

A Fábrica atravessa uma grave crise financeira.

Fialho de Almeida, Joaquim de Vasconcellos e Ramalho Ortigão, escrevem sobre a Fábrica.

1892

Em junho, a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha foi hipotecada.

Em plena crise financeira da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, o artista cria a Talha Manuelina, desafiando os limites técnicos da olaria dada a sua dimensão, atingindo os 2,44 metros. Conta com a empenhada colaboração dos operários numa tentativa de angariar fundos. A Talha foi comprada no ano seguinte pelo rei D. Carlos e está no museu desde 1926.

É convidado a fazer a decoração do Pavilhão de Portugal na Exposição Colombiana de Madrid. Nesta exposição, a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha ganhou uma medalha de ouro.

A “Secção Portugueza da Exposição Colombiana” é noticiada n’ O António Maria, de 30 de dezembro.

1893

Em fevereiro dedica uma capa a Rosa Araújo no jornal O António Maria.

Pelo Natal, começa a publicar anualmente histórias desenhadas n’ O Comércio do Porto Ilustrado até 1904.

1894

Tem início a colaboração de E. Fernandes com o pseudónimo Esculápio e termina a de Eugénio de Castro, que assinava como Eu.

Faz a decoração da fachada e dos interiores da Tabacaria Mónaco, no Rossio.

Neste trabalho destacam-se os painéis de azulejos pintados a três cores que contornam as portas da fachada da tabacaria e os painéis a duas cores no interior. Neles figuram rãs e cegonhas, como nas fábulas, com comportamentos humanos, saboreando os produtos vendidos na tabacaria.

Faz a decoração do palco do Teatro São Carlos.

A Borracha Taborda foi dedicada pelo artista a este ator, com elementos decorativos alusivos à peça “Médico à Força”, e a Jarra Falstaff foi feita em homenagem ao barítono Victor Maurel, após ter representado o papel de Falstaff numa peça de Shakespeare em Lisboa.

Exposição de Faianças das Caldas da Rainha, em Lisboa.

Participa na Exposição Universal de Antuérpia. A Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha é distinguida com mais uma medalha de ouro.

1895

Faz a capa e ilustrações para A Perdição da Mulher, de Perez Esrich.

Participa na Exposição Industrial Portuguesa que tem lugar no Porto, onde recebe uma medalha de ouro.

José Relvas encomenda ao artista a Jarra Beethoven para a sua Casa dos Patudos, em Alpiarça, Santarém. Inicia os trabalhos em agosto.

De proporções arrojadas e elementos decorativos de extrema delicadeza, a criação desta peça constituiu um enorme desafio técnico, que contou com a colaboração empenhada dos operários da fábrica. José Relvas assusta-se com a sua grande dimensão.

Gungunhana, chefe africano que reinou no território de Gaza (Moçambique), opôs-se aos interesses colonialistas portugueses e ingleses. Foi capturado por Mouzinho de Albuquerque e trazido para Portugal, onde foi exibido de forma humilhante, como um troféu.

Neste contexto de fervor nacionalista, Bordalo produziu duas garrafas, mostrando um Gungunhana antes de ter sido ser prisioneiro e outro depois, usando a sátira para afrontar uma personalidade em posição de inferioridade.
Estas peças testemunham a mentalidade colonial da sociedade portuguesa da época.

Criou uma moldura para relógio destinada à livraria do editor Manuel Gomes, situada na rua Garrett, em Lisboa. Encomendada ao artista, esta peça teve como inspiração a obra Os Lusíadas, do poeta Luís de Camões, integrando iconografia renascentista e uma composição épica.

1896

 

A 15 de julho, o artista envia um telegrama a Elvira, sua mulher, dando conta da sua “alegria” e dos operários da fábrica quando a Jarra Beethoven saiu “perfeita“ do forno. Esta fase das operações foi uma proeza tendo em conta a enorme dimensão, a extrema delicadeza e as subtilezas técnicas da jarra.

Cria em cerâmica o Perfumador Árabe, uma peça dedicada e oferecida ao Conselheiro Júlio de Vilhena, amigo do artista e administrador do Banco de Portugal, que foi adiando sucessivamente a cobrança de dívidas da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, afetada por graves problemas financeiros.

Profusamente decorada, esta peça tem elementos rendilhados muito frágeis, que simulam filigrana, e pequenas esculturas alusivas à Via Sacra, que remetem para os trabalhos que o artista realizou para as Capelas do Buçaco.

O Moringue “Gonzaga Gomes” contém um autorretrato do artista, a representação de uma página do jornal O António Maria, da Maria da Paciência e do António Maria, duas personagens da sua obra gráfica e a caricatura de António Luís Gonzaga Gomes, amigo e administrador daquele jornal e da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, a quem a peça foi dedicada.

1897

Desenha para O Século e para O Commercio do Porto Illustrado.

Publica o Carnaval de 1897 no periódico Mala da Europa: Revista Quinzenal.

Cria peças decorativas em cerâmica com figuração humorista, como o Bule, a Chávena e o pires “Chinês”.

O Prato “Mesa Posta”, de grandes dimensões e técnica virtuosa, representa uma natureza morta composta por alimentos prontos a ser cozinhados, com uma rara aproximação à realidade. Foi uma encomenda de Adriano Júlio Coelho, comerciante e amigo do artista.

Desenha figurinos para a peça de teatro O Reino da Bolha, de Eduardo Schwalbach.

Em novembro, o jornal O António Maria elogia a peça que teve lugar no Teatro da rua dos Condes.

1898

O Zé Povinho a fazer um manguito foi representado em diversos objetos de cerâmica, como o tinteiro “Toma”.

Na obra do artista, este gesto que o Zé Povinho faz representa uma atitude crítica e de liberdade de expressão perante o mundo.

A 22 de fevereiro , aquando da visita a Lisboa do Presidente da República do Brasil, o artista é convidado para um passeio no Tejo a bordo do navio brasileiro Tuppy.

N’ O António Maria, de 4 de Março, evoca este passeio e reproduz fotografias registadas no momento por Luiz Canedo.

Desenha figurinos para a peça de teatro Formigas e Formigueiros, de Eduardo Schwalbach.

O António Maria, de 14 de abril, dedica uma página a esta peça que teve lugar no Theatro da rua dos Condes.

Faz ilustrações para periódicos, como o Diário de Noticias Ilustrado, O Proletário e O Gato. Semanário alegre de crítica ligeira.

Desenha a capa para A Carteira do Artista. Apontamentos para a História do Theatro Portuguez e Brasileiro, de Sousa Bastos.

A 7 de julho, publica o último número da 2ª série de O António Maria, com capa desenhada por Manuel Gustavo.

A Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha permanece mergulhada numa grave crise financeira.

Faz o Candeeiro “Justino Guedes” dedicado ao seu amigo e administrador da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha.

A 30 de setembro inaugurou a exposição da Jarra Beethoven no foyer do Teatro D. Amélia (São Luiz), em Lisboa, onde também não conseguiu comprador.

Esta peça tinha sido uma encomenda de José Relvas, que não a adquiriu devido à sua grande dimensão.

1899

Faz um emotivo busto de Maria Visconti aquando da sua morte, em fevereiro.

A 26 de maio parte para Brasil no paquete “Álvares Cabral”, levando a Jarra Beethoven, que não conseguiu comprador em Portugal. O transporte da Jarra exigiu os maiores cuidados dada a sua extrema fragilidade.

Em julho e agosto tem lugar a exposição da Jarra, juntamente com outras peças de cerâmica, no Rio de Janeiro, na rua do Ouvidor, nº 73.

No Rio de Janeiro também não conseguiu vender a Jarra, tendo inclusive promovido uma tombola de 1000 bilhetes para a sortear. O número premiado ficou por vender e a peça acabou por ser oferecida ao Presidente da República daquele país, Campos Sales, destinada à sala de Música do Palácio do Catete.

Em setembro, regressa a Lisboa sendo recebido com um banquete no Monte Estoril, cujo menu desenha com um autorretrato.

Segue depois para as Caldas da Rainha onde é recebido pela população.

Faz trabalhos de decoração para o Palácio do Marquês da Foz.

Cria um Tinteiro para o Conselheiro Thomaz Nunes de Serra e Moura.

1900

A 17 de janeiro, lança o jornal A Paródia, iniciando a série Zoopolítica com um conjunto de nove desenhos, publicados na primeira página, onde se retratam “os protagonistas estruturais da cena política nacional, aos quais os partidos fatalmente se submetem, em usos e costumes do dia-a-dia constitucional”: a Politica – “A Grande Porca”, a Finança – “O Grande Cão”, a Economia – “A Galinha Choca”, a Retórica Parlamentar – “O Grande Papagaio”, o Progresso Nacional – “o Grande Caranguejo”, a Burocracia – “a Grande Rata”, a Beneficência – “o Grande Cágado”, a Instrução Pública – “a Grande Burra” e a Reação – “a Grande Toupeira”.

O editorial é assinado pelo artista e pelo seu filho Manuel Gustavo:

“Ficarmos dentro do Antonio Maria seria ficar dentro de um museu, na situação de um velho guarda mostrando à curiosidade do seu tempo os despojos de uma epocha passada. A PARODIA é outra coisa, como o tempo é outro. O Antonio Maria foi um homem. Quando muito, foi uma família. A PARODIA – dizemo-lo sem receio de ser immodestos, somos todos nós. A Parodia é a caricatura ao serviço da grande tristeza pública. É a dança da Bica no cemitério dos prazeres.”

Colaboradores artísticos e literários d’ “A Paródia”

O jornal conta com a forte colaboração do seu filho Manuel Gustavo e também com a participação de outros ilustradores: Celso Hermínio, Jorge Cid, Manuel Monterroso, correspondente no Porto, e João de Saavedra.

Nos últimos anos, outros colaboradores aparecem, como Petrus, Manuel Maria, Sancho, Alfredo Cândido, Botelho, Neca, A. T. B. e outros.

No início, os principais colaboradores literários são Rivol e Tito Litho (Guedes de Oliveira, do Porto), José Inácio de Araújo, Thyrso, Teixeira de Sousa, Marcelino Mesquita (Dois Emes) e Esculápio (Eduardo Fernandes). Mais tarde, conta com João Evangelista, Pimpolho, Barão Quim, Xenofonte de Risco ao Lado, Bonifácio, Simplício, Caturra, O Outro Eu, O Ferrador, João Chagas (João Rimanso e João Risonho), que a partir de agosto de 1902 se destaca.

Desenha figurinos para a revista teatral A Paródia, de Baptista Dinis.

Eça de Queiroz morre a 16 de agosto em Neuilly, França. Em setembro, o corpo é trasladado para Portugal, sendo o funeral realizado no cemitério do Alto de S. João, em Lisboa. O artista faz a decoração do carro fúnebre.

A Exposição Universal de Paris, que decorre entre 14 de abril e 12 de novembro, é alvo de notícias jocosas no jornal A Paródia, logo desde o seu primeiro número, a 17 de janeiro.

O artista visita a exposição em Paris com o filho Manuel Gustavo, regressando a Lisboa em novembro, como noticiado n’A Parodia, de 14 de novembro com um autorretrato.

A 12 de dezembro, ainda graceja n’A Paródia com a Exposição de Paris e com a tosse crónica que o afeta: “Nós também fomos contemplados na lista geral dos expositores portuguezes. Tivemos o grand prix da tosse nacional.”

Faz a caricatura de figuras populares e personalidades da sociedade portuguesa em cerâmica, algumas cuja função reforça o humor.

É o caso do Visconde de Faria, responsável pela representação portuguesa na Exposição de Paris, em 1900, concebido como uma figura de movimento insuflada, sugerindo o seu egocentrismo, e com a função de paliteiro, em que os palitos lhe dariam um ar de pavão, remetendo para a sua personalidade.

1901

Desenha figurinos para a peça Talvez te Escreva, de Sousa Bastos, tendo como principais atores Palmira Bastos e Alfredo de Carvalho, exibida no Teatro da Avenida. A capa da Paródia, de 6 de fevereiro, faz referência à peça.

Faz trabalhos de decoração para o Palácio Foz.

Em homenagem ao escritor, faz o busto de Eça de Queiroz.

O prato Gaio é um exemplo de referência de decoração naturalista e de aproximação ao real que introduz nas suas peças em faiança.

Desde a sua ida a Paris em 1900, começa a experimentar uma decoração de inspiração Arte Nova em peças de cerâmica, como é o caso da fruteira Libélulas.

 

 

 

1902

A 12 de fevereiro, publica n’A Paródia um Zé Povinho sempre à espera, revelando mais uma vez a complexidade desta figura, que tanto representa domesticado com a albarda, como com a força de um gesto como o manguito.

Em março, inicia a publicação da 3ª série do Álbum das Glórias, constituída por apenas três números com os retratos de Hintze Ribeiro, José Luciano de Castro e Bulhão Pato.

A 6 de junho, no seu 36.º aniversário de casamento, o artista oferece uma moldura modelada em cerâmica “A Elvira”, sua mulher, com uma dupla autorrepresentação: enquanto jovem, com um porta-lápis, e enquanto mais velho, encurvado com o porta-lápis caído e vestindo a sua bata de trabalho em cerâmica. As duas autocaricaturas são acompanhadas por um gato em pé e outro deitado, reforçando a mensagem da passagem do tempo.

Na fotografia pode ver-se Rafael, Elvira e os seus filhos Manuel Gustavo e Helena.

O nº 152 do jornal A Paródia, de 10 de dezembro, foi apreendido. A publicação de uma gravura alusiva ao alheamento de D. Carlos aos problemas da nação, da autoria de Manuel Gustavo, foi alvo de censura pelo juiz Veiga, que desencadeou o processo.

Com humor, o número seguinte, de 17 de dezembro, dá conta da surpresa que este acontecimento causou.

1903

A 7 de janeiro, foi publicado um suplemento d’ A Paródia sobre a sua apreensão em dezembro de 1902. Publicava a sentença do juiz Pina Calado, dando razão ao jornal, e anunciava o fim d’ A Paródia e a sua fusão com A Comédia Portuguesa.

Neste ano, foi alterado o título do jornal para Paródia Comédia Portugueza devido à fusão d’ A Paródia com a revista Comédia Portuguesa, dirigida por Julião Machado e Marcelino Mesquita, que assume a função de diretor literário no novo jornal. E, pela primeira vez, Rafael Bordalo Pinheiro aparece como diretor artístico.

A 6 de junho, a Associação dos Jornalistas de Lisboa faz uma homenagem ao artista com um banquete no Teatro D. Maria II, no qual lhe é oferecido um álbum com autógrafos, dedicatórias e desenhos de um alargado grupo de artistas e intelectuais da época.

Na Paródia – Comedia Portugueza, de 11 de junho, é publicada uma referência a esta homenagem com artigos e ilustrações que celebram o artista.

Um dos artigos refere que Rafael Bordalo Pinheiro conseguiu reunir, no banquete d’honra, “os indivíduos das opiniões mais opostas e mais em guerra entre si”.

O mesmo número da Paródia – Comedia Portugueza conta com uma gravura com um duplo autorretrato, intitulado “Vinte Annos Depois”.

Duas autorrepresentações do artista, uma em idade madura, outra enquanto jovem, em que o primeiro pede lume ao segundo. Nos bolsos vêem-se os jornais que publicou em cada época da sua vida: O António Maria, lançado em 1879, e A Paródia, iniciada em 1903. Dois gatos, um novo e outro mais velho, completam o desenho junto aos autorretratos de Rafael Bordalo Pinheiro.

Retrato do artista numa sala de sua casa, em Lisboa.

Sobre a secretária está a caixa em madeira que guardava os originais do Álbum de Homenagem que lhe ofereceram no banquete d’honra organizado pela Associação de Jornalistas.

Nos últimos anos de vida, eram frequentes as suas estadias nas termas de Entre-os-Rios para aliviar a dificuldade respiratória e a bronquite crónica que o afetava.

Dali saía rejuvenescido, como anunciava na Parodia Comedia Portugueza, de 8 de outubro.

José Queiroz foi o responsável pelo programa decorativo, em estilo renascentista, da sala de jantar do Palacete do maestro Michel’ Angelo Lambertini, na avenida da Liberdade, em Lisboa. Convidou o artista a fazer um friso renascentista em cerâmica para decorar um fogão em madeira, em conjunto com o entalhador José Maior.

1904

Em janeiro, por altura de um banquete de  homenagem a Columbano, Rafael publica um retrato do seu irmão no jornal Parodia Comedia Portugueza.

Em maio, Ventura Terra convida o artista para fazer a decoração do Palacete de Henrique de Mendonça, na então Quinta do Seabra, em Lisboa.

Desenha uma baixela manuelina para o Visconde de São João da Pesqueira, executada pelos ourives Reis & Filhos do Porto, com 300 peças, a partir de modelos seus.

Com humor, cria uma caixa em cerâmica com o Zé Povinho a sair de um barril, fazendo um manguito. Este gesto é tão forte que passa a ficar associado a esta figura criada pelo artista no jornal A Lanterna Mágica, em junho de 1875. Como uma forma de contestação, representa uma metáfora da atitude crítica e do exercício de liberdade do Zé Povinho. A expressão “Toma”, inscrita na peça, reforça a mensagem.

Com a ajuda do filho Manuel Gustavo, participa com Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha na Exposição Universal de St. Louis, nos Estados Unidos da América, que decorreu entre 30 de abril e 1 de dezembro, alcançando uma medalha.

Das Officinas Photographicas, 38 Praça dos Restauradores, de Arnaldo da Fonseca, este será talvez o último retrato de Rafael Bordalo Pinheiro.

1905

A partir da viagem a Paris em 1900, o artista começa a criar padrões de azulejo com inspiração Arte Nova para aplicar na decoração de interiores.

Alguns dos painéis de azulejo que existem na coleção do Museu são deste período.

Faz ilustrações para Impressões de Theatro, de Joaquim Madureira (Braz Burity), e para O Festival de João de Deus, de Teófilo Braga.

Faz “croquis” para carros alegóricos do cortejo do Carnaval dos Fenianos, no Porto, que nunca chegou a ver concretizados. É Augusto de Pina que vem a assegurar a direção destes trabalhos com base nos desenhos de Rafael.

A 23 de janeiro, morre na casa do Largo da Abegoaria, atual Largo Rafael Bordalo Pinheiro, em Lisboa.

É sepultado no Jazigo dos Viscondes de Faro e Oliveira no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. Foi o artista que desenhou este jazigo, em 1894, o que, além da amizade que o ligava àquela família, poderá justificar o facto de ter sido ali sepultado.

O jornal Paródia Comédia Portugueza, nº 107, de 10 de fevereiro de 1905, é especialmente dedicado a Rafael Bordalo Pinheiro, incluindo nas páginas centrais uma fotocronologia do artista, desde os 16 aos 58 anos.

Ramalho Ortigão e João Chagas, seus companheiros, escrevem neste número, lembrando histórias pessoais.

A capilha que envolve o jornal publica, na frente, o desenho “Vinte annos depois“, de 1903, e, no verso, um desenho de Roque Gameiro representando o artista a trabalhar em cerâmica.

A 23 de fevereiro, o jornal volta a ser publicado. No cabeçalho, o título passa a ser Paródia, tendo escrito em baixo “Fundador Rafael Bordalo Pinheiro”.

Manuel Gustavo assume: «neste momento a nossa função não é “continuar”, o que seria responsabilidade demasiada, mas “começar”, o que já é responsabilidade bastante grande».

O nome de Manuel Gustavo como diretor do jornal só aparece no número de 20 de abril de 1907.