O humor de Rafael Bordalo Pinheiro tinha como principais protagonistas os políticos da sua época e, como inspiração, os acontecimentos reais e os “arranjinhos” da vida política e económica, que denunciava sem piedade.
Para aumentar o efeito dramático, e também cómico, das situações que desenhava, precisava de encontrar uma personagem que representasse quem sofria com essas negociatas. Foi assim que criou o Zé Povinho para representar todo o povo português.
O Zé Povinho nasceu no jornal A Lanterna Mágica do dia 12 de junho de 1875.
Como era véspera de Santo António, Bordalo apresentou a sua nova personagem enquadrada numa tradição da festa popular lisboeta:
– Os peditórios para o Santo António.
Por esta altura, era costume as crianças erguerem nas ruas pequenos altares ao Santo (a que também chamavam tronos), pedindo a quem passava uma esmola p´ra a cera do Santo António. Claro que a esmola era desviada dessa intenção e acabava por ficar nos seus bolsos para comprar rebuçados ou brinquedos.
É neste jogo de dualidades que devemos procurar o significado deste desenho:
um Zé Povinho que é surpreendido por um menino com cara de velho que lhe pede uma esmola; um Santo António de bigode, que nada se parece com o dos altares das igrejas, com um menino Jesus ao colo, que tem uma coroa na cabeça, que nos faz lembrar outra personagem política… e aquele senhor sentado com um chicote que observa a cena, que faz ali? E aquelas abelhas com cara de gente, quem serão?
Afinal, em que bolsos ficarão as moedas que o Zé Povinho dá ao miúdo?
Passe o cursor por cima das personagens e fique a saber quem são as personalidades da vida política portuguesa que apadrinharam o nascimento do Zé Povinho.