Rafael Bordalo Pinheiro iniciou o ano de 1884 publicando o desenho “A Árvore da Liberdade” no jornal O Antonio Maria, de dia 3 de Janeiro. A ilustração mostra um alegre almoço campestre com quatro mesas onde estão sentados, a comer, a família real, a Igreja, o Governo e o Exército. Quem serve estas mesas são Zés Povinho vestidos de cozinheiro, lacaio, sacristão e impedido militar.
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As mesas estão ironicamente dispostas à sombra da árvore da liberdade, onde aparecem pousados alguns “pássaros bisnau” (expressão que se refere aos espertalhões, sempre à procura de formas de enganar os outros). Estes pássaros simbolizam os problemas com que o país se debatia na época: as relações com Espanha e Inglaterra, o poder financeiro e o clientelismo no aparelho de Estado. Observam ainda a refeição, mas sem participar nela, criaturas esfomeadas. Quem serão elas? Mestre-escola e figuras de negros que representam as colónias portuguesas.
Um pormenor: à margem da refeição surge o Ministro da Fazenda (Finanças) Hintze Ribeiro, que Bordalo castigava assim por conta das negociatas que o envolviam no concurso da Alfândega.
Embora encerre uma crítica mordaz de muito maior alcance no contexto histórico da época, a gravura evoca as comemorações do 1º de Dezembro, como se pode ver com a presença de uma banda filarmónica que interpreta o
Hino da Restauração e que confere solenidade à refeição.
Em modo de legenda da gravura, reforçando o humor e a crítica, sobressaiem as seguintes quadras:
Unida a caterva toda
Janta à sombra do carvalho;
E o Povinho serve à roda,
Sem que lhe pese o trabalho
As Avantes Canecenses
Os Prussianos do Seixal,
As Incríveis Almadenses
Tocam o hino liberal
Nessa frescata bucólica
Os convivas ganharão
Civismo – a folha simbólica,
Bolota – alimentação