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Cadernos de Bordalo

A coleção Cadernos de Bordalo, organizada pelo Museu Bordalo Pinheiro, oferece ao público um conjunto de reflexões relacionadas com Rafael Bordalo Pinheiro, a sua obra e o seu tempo – mas também com as circunstâncias em que o museu nasceu, fruto da generosidade do fundador, Ernesto Cruz Magalhães.

Num registo profundamente conhecedor, mas capaz de uma comunicação ágil e próxima do leitor, damos a conhecer o imenso acervo artístico, histórico e conceptual que move e inspira o trabalho quotidiano do Museu Bordalo Pinheiro.

Editados desde 2020 pelo Museu Bordalo Pinheiro e pela EGEAC, os Cadernos de Bordalo podem ser adquiridos na loja do Museu Bordalo Pinheiro.

Caderno nº1
BORDALO NÃO GOSTAVA DE FADISTAS!…

Autor: Pedro Félix
Ano: 2020

O fado é um universo de prática musical que tem estado constantemente presente no contexto cultural português dos últimos 150 anos. Nenhum autor lhe pode ficar indiferente e alguns estabelecem relações intelectuais complexas com aquele género e a sua comunidade de praticantes. Rafael Bordalo Pinheiro é um desses casos. Figura destacada do meio cultural lisboeta da segunda metade do século XIX e um dos mais relevantes artistas plásticos que ambicionava um Portugal moderno, estatuto a que poucos assenta com tanta propriedade, Bordalo tem uma obra de grande densidade, profundidade e detalhe que se constitui como uma via para refletir sobre o país, o contexto do fado, e o seu lugar na sociedade lisboeta de oitocentos. O presente caderno dedica-se a brevemente explorar essas dimensões, propondo caminhos que julgamos úteis para quem tem no fado o seu objeto, mas também para a compreensão da pluralidade e complexidade de Bordalo.

“Sou da última geração em que existiam bolsas de resistência ao fado enquanto universo ligado a uma maneira resignada de ser português. Por isso, quando me tornei antropólogo, poucos escreviam sobre fado e assim tive a oportunidade de participar em processos fundamentais para a sua patrimonialização, nomeadamente a preocupação com os documentos sonoros a que agora estou dedicado, coordenando a equipa instaladora do Arquivo Nacional do Som. Nos desenhos de Bordalo vi as raízes dessa resistência.” Pedro Félix

Caderno nº2
ATRAVÉS DO TRAÇO
Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro (1867-1920)

Autora: Mariana Caldas de Almeida
Ano: 2020

O trabalho artístico de Manuel Gustavo, filho primogénito de Rafael Bordalo Pinheiro, permanece ainda hoje pouco conhecido do grande público, apesar da sua vasta obra gráfica e cerâmica. A estreia como desenhador humorista em 1884 n’O António Maria assinalou o início de uma colaboração ativa nas diversas revistas de humor paternas, tendo também trabalhado como autor de banda desenhada e ilustrador em diferentes publicações e obras literárias. Nas Caldas da Rainha, onde fundou a Fábrica Bordalo Pinheiro em 1908, herdeira da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, realizou uma obra cerâmica de forte influência Arte Nova e deu continuidade à produção dos modelos de Rafael Bordalo Pinheiro, sobre os quais inovou de forma original e criativa. Recorrendo ao trabalho de investigação que originou a exposição “Através do Traço”, realizada no Museu Bordalo Pinheiro em 2013, recordamos aqui o Homem e Artista e damos a conhecer os aspetos de relevo da sua obra desenhada, relacionando-a com diversas fontes de inspiração nacionais e internacionais.

A autora deste segundo número dos Cadernos de Bordalo, Mariana Caldas de Almeida, é uma “bordaliana” convicta desde 2005, ano em que se iniciou nas lides do estudo do insigne artista Rafael Bordalo Pinheiro. Trabalha desde esse ano no Museu Bordalo Pinheiro onde faz investigação sobre imprensa humorística, fotografia e a obra cerâmica de Rafael Bordalo, publicando e expondo diverso material inédito que tem vindo a contribuir para a divulgação das coleções de Arte do Museu e para o conhecimento da obra artística da família Bordalo Pinheiro.

Caderno nº3
DO MANGUITO E OUTROS GESTOS
Na obra de Rafael Bordalo Pinheiro

Autores: Isabel Galhano Rodrigues e João Alpuim Botelho
Ano: 2021

Com o seu traço cuidado e certeiro, Rafael Bordalo Pinheiro mostra, critica e ridiculariza a vida política e social portuguesa do fim do século XIX. Magicando encontros e conversas entre os protagonistas da sociedade da época, explora subtilmente as diversas facetas do comunicar face a face nos desenhos quase sonoros, de onde brotam vozes, gritos e suspiros. Nas caricaturas de várias personalidades, ou em personificações de instituições (como a Carta Constitucional) ou de dimensões abstratas (como a Liberdade ou a República), retrata figurantes que ostentam posturas típicas dos seus estados de alma, ou esboçam os gestos e trejeitos que o articular das palavras arrasta consigo. Neste caderno iremos, em primeiro lugar, apresentar vários usos e configurações dos gestos em geral, assim como chamar a atenção para como se entrelaçam ou não com as palavras do discurso e se coordenam com outros movimentos do corpo. Segue-se, depois, a descrição mais pormenorizada de um gesto a que o autor deu grande visibilidade – o manguito –, da sua origem, formas, funções, significados e usos.

Caderno nº4
Bordalo, o jornalista visual

Autor: Carla Baptista
Ano: 2022

Este livro nasceu de uma pergunta: Rafael Bordalo Pinheiro foi um artista
ou um jornalista? Olhando para o enorme legado artístico que deixou,
a pergunta parece quase escandalosa. Bordalo foi artista, e um dos maiores!
Mas existe também um Bordalo que revoluciona o jornalismo ao longo de 35
anos de vida nas redações de nove jornais ilustrados, três deles fundados no
Brasil (O Mosquito (1875), Psit!!! (1877) e O Besouro (1878).
Desde O Binóculo (1870), primeiro hebdomadário de caricaturas a ser
vendido dentro dos teatros, passando pela Lanterna Mágica (1875), que
reunia sob um mesmo pseudónimo (Gil Vaz) os contributos de Guerra
Junqueiro e de Guilherme de Azevedo, pelas duas séries d’ O António
Maria (1879 e 1891), onde teve a colaboração de Ramalho Ortigão, e
pelos dois últimos jornais, Pontos nos ii (1885) e A Paródia (1900),
deu os melhores anos ao jornalismo. Este caderno resume os valores que
orientaram o jornalista Bordalo Pinheiro. À luz da crise atual da profissão,
praticou a fórmula quase perfeita: independente, criativo, inovador, crítico,
em diálogo com os leitores e com a história. Regressar aos seus jornais é
mergulhar na realidade social e política de Oitocentos, surpreendidos pela
grandeza da imaginação, o rigor do talento visual e narrativo, e a acutilância
das ideias. A pergunta de partida abre a resposta que une as duas dimensões
porque, no universo fusional de Bordalo Pinheiro, a análise e o sentimento
caminham, alegres, de mãos dadas: foi um artista-jornalista-artista.

Carla Baptista é professora universitária no Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH, investigadora no ICNOVA e jornalista freelance.

Caderno nº5
Fazer isto & assignar. Banda desenhada, autografia e memória gráfica em Rafael Bordalo Pinheiro

Autor: Pedro Moura
Ano: 2023

No século XIX a banda desenhada era filha da imprensa e da gravura, da caricatura e da literatura serializada, da sátira política-social e um turbilhão de ideologias dedicadas à emergência de uma sociedade mais justa, democrática e participativa. Procurava, então, maiores densidade literária e reinvenção gráfica, reformulação de géneros e graus de experimentação formal, assim como novos e diversos públicos e canais de divulgação. Depois de uma fase “clássica” mas delimitadora na primeira metade do século XX, esta arte voltaria a esse ímpeto inicial.
Bordalo não apenas estava na linha da ente dessa arte, em termos globais, como a fundar os trilhos futuros. Este volume vasculha a obra gráfica do artista com um olhar contemporâneo, revisitando aquelas prestações que hoje chamaríamos de “autobiografia” e “reportagem gráfica” na banda desenhada, nos inúmeros gradientes de estilo e expressividade do nosso particular “fundador”.

Pedro Moura é crítico, investigador académico e argumentista de banda desenhada. É co-autor do ciclo de poemas em prosa ilustrados Variações do Anjo da História, com Ilan Manouach (montesinos/Cinquième Couche, 2013), da novela gráfica com Marta Teives Os Regressos (Polvo, 2017), entre inúmeras curtas em várias publicações (The Lisbon Studio Mag, The Lisbon Studio Series, Cais, Quireward, Umbra, etc.). Visualising Small Traumas é o fruto da sua investigação de doutoramento sobre banda desenhada portuguesa contemporânea, incluindo o trabalho de Miguel Rocha (Leuven University Press, 2022) e Fazer isto & Assignar (Museu Bordalo Pinheiro, 2023) um ensaio sobre a produção de banda desenhada de Rafael Bordalo Pinheiro. É ainda argumentista em várias áreas, docente e comissário de exposições.

Caderno nº6
ENTRE BRASIL E PORTUGAL: travessias de Rafael Bordalo Pinheiro

Autor: Rosangela de Jesus Silva
Ano: 2023

Por que Rafael Bordalo Pinheiro escolheu viver no Brasil? Afinal, em meados de 1870, já tinha alcançado reconhecimento em Portugal, e ainda poderia ter ido trabalhar na Espanha ou em Londres. Terá contribuído para isso o fato de falar-se a mesma língua? Alguma curiosidade com a paisagem tropical? A possibilidade de fazer fortuna na América? Seu espírito boêmio e aventureiro? Talvez não haja uma resposta única, mas o fato é que em setembro de 1875 Bordalo desembarcou no Brasil e parece ter gostado bastante da recepção e do que conheceu no Rio de Janeiro.

Não tardou a fazer muitos amigos, além de encontrar acolhimento na comunidade portuguesa, a qual buscava reconstruir, do lado de lá do Atlântico, um pedacinho de Portugal. Mas os desafios e dificuldades também estiveram presentes nessa jornada. O ambiente jornalístico brasileiro do período se expandia e a competição entre as folhas ilustradas crescia no mesmo ritmo que a tecnologia de impressão de imagens se desenvolvia. Entre os assuntos preferidos estavam as críticas aos políticos do Império, à Igreja Católica e às epidemias, sobretudo a de febre amarela que assustava a população. Nos quase quatro anos que permaneceu no Brasil, Bordalo experimentou sabores e dissabores, aprendeu e ensinou e, quando retornou a sua pátria em 1879, levou um pouquinho do Brasil, cujos ecos se veem em sua obra. Mas também deixou algo de si, contribuindo para a escrita da história da imprensa ilustrada brasileira.

Sobre Rosangela de Jesus Silva
Na Iniciação Científica, durante a graduação na Universidade Estadual de Campinas – Brasil, fui apresentada ao universo da imprensa ilustrada do século XIX. E não demorou para cruzar com as imagens de um português, de bigodes e monóculo, cujos desenhos incisivos e marcantes parodiaram a visita de D. Pedro II à Europa, além de ter protagonizado, junto com Angelo Agostini, uma grande intriga no “Bairro da Caricatura”. Não resisti…precisava conhecer quem ousava brigar com o mais renomado caricaturista do período. Fui ao Mosquito, continuei em Psit e fiquei impressionada com a reprodução de duas fotografias de crianças atingidas pela seca no nordeste do Brasil, publicadas n’O Besouro. Bordalo permaneceu em minha trajetória e me ajudou a revisitar momentos importantes da história brasileira.