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Núcleo “Bordalo ao Espelho” | Legendas

Bordalo ao Espelho imagina uma biografia muito divertida: através do autorretrato, em que foi mestre, o artista apresenta-se, transfigura-se, desafia o sentido de observação dos mais incautos, convida ao riso e convoca o espanto: quantos Bordalos cabem num Bordalo só?

Caricatura de Teixeira de Vasconcelos e de Rafael Bordalo Pinheiro,O Calcanhar d' Achiles, 1870, p. 9

Teixeira de Vasconcelos e Rafael Bordalo Pinheiro
O artista apresenta-se numa página dedicada ao escritor Teixeira de Vasconcelos que admirava e lhe fez a apresentação desta publicação. É o seu primeiro álbum editado e a primeira autorrepresentação importante. Bordalo retrata-se numa dimensão menor e a fazer uma vénia, mostrando o álbum donde saem desenhos. Uma planta ondulante rodeia pequeníssimas cenas caricaturais, exibindo o plano deste álbum e de outro que não chegou a ser publicado. Rafael Bordalo tinha 24 anos.        

Gravura sobre papel

O Calcanhar de Achiles

1870

    

A lanterna mágica  N.º 19, 14 de Julho de 1875

Expediente

O artista escreve uma carta ilustrada aos leitores do jornal, onde explica, inventando, porque foi alterada a data da publicação. O texto manuscrito é acompanhado de uma banda desenhada cheia de humor que narra a ação decorrida em Lisboa. A assinatura e as treze autorepresentações pretendem reforçar a autenticidade do caso e aumentam o divertimento. Este é o seu primeiro jornal de sucesso. Rafael Bordalo tinha 29 anos.

Litografia sobre papel

A Lanterna Mágica

1875.07.14

Monóculo de Rafael Bordalo

Monóculo
Um vidro de aumento, rodeado por um anel e preso a um fio, era um adereço de vestuário, habitual, no artista. Além de símbolo de elegância, servia de instrumento de trabalho para facilitar o desenho miudinho. A ampliação de uma parte da figura está diretamente relacionada com a caricatura. A partir da década de 1870 o artista escolhe este objeto como um dos seus atributos no autorretrato. 

Tartaruga e fio
s. data

Porta lápis
Esta ferramenta para o desenho permite trabalhar, com duas pontas diferentes de carvão, sem ter de mudar o material. Deste modo o artista pode ser mais rápido. A partir de 1870, Rafael Bordalo adotou o porta-lápis como atributo em muitas das suas autorrepresentações, desenhando de maior dimensão este símbolo do seu trabalho. O porta-lápis serviu, ainda, para manifestar as emoções do caricaturista: homenagem, gratidão, nojo, etc. e até foi convertido em arma de agressão, como flecha, lança ou machado.  Bordalo chegou a transformar-se em porta-lápis, animando o objeto como seu corpo.      
                

Metal e carvão

s. data

Minhas senhoras! Meus senhores!

Através de uma BD, o artista conta-nos como conquistou os leitores deste jornal humorístico do Rio de Janeiro. Logo, no seu primeiro trabalho publicado, Bordalo apresenta-se de uma forma descontraída e bem-humorada, descrevendo a sua viagem, os medos e as agradáveis surpresas à chegada ao novo continente. São apontamentos de amabilidade, muita elegância feminina, bailes, concertos e corridas de cavalos. Enquanto personagem principal da crónica, o artista autocaricatura-se dezassete vezes, dando-se a conhecer por inteiro ao público e prometendo voltar na semana seguinte. Associada à qualidade gráfica, é de salientar o esforço de adaptação do texto em português a uma linguagem fácil para o leitor brasileiro. O artista viria a ser o proprietário deste jornal e lançaria dois outros títulos, o Psitt!! e O Besouro, durante os quase quatro anos de estadia no Brasil. Rafael Bordalo tinha 29 anos

Litografia sobre papel

O Mosquito

1875.09.11

A Semana

Transformado em porta-lápis, Rafael Bordalo é o protagonista de uma movimentada história à procura de notícia para este seu jornal. O artista autorrepresenta-se uma dezena de vezes perseguindo um jornalista. Afinal a intenção é noticiar a festa artística em benefício do seu amigo Brazão, ator que estava no Rio de Janeiro. A história continua em mais duas páginas. É notável como o caricaturista consegue animar um objeto e dar-lhe o seu rosto. Rafael Bordalo tinha 30 anos.

Litografia sobre papel

O Mosquito 1876.11.29

Amen!

Invulgar autorrepresentação do artista que se mostra de costas e dobrado. É a última página de um número especial do seu jornal brasileiro, onde põe fim à violenta polémica com o caricaturista Ângelo Agostini que vemos representado como boneco articulado. Contrastando com a pose descontraída e elegante, o artista está calçado com tamancos e segurando a bengala, duas peças de traje que podiam servir de arma. Rafael Bordalo tinha 32 anos.

Litografia sobre papel

O Besouro de Chicote

1878.12.12,

Ilustração de Rafael Bordalo Pinheiro para a capa da obra No Lazareto de Lisboa, 1881. Auto-representação atrás de uma grade.

No Lazareto de Lisboa

Esta cómica autorrepresentação foi realizada para a capa de um livro que desenhou quando regressou do Brasil, em 1879. Um conjunto de indícios são oferecidos ao leitor e completam o retrato psicológico do artista. A porta de prisão e o cadeado aludem à quarentena obrigatória no Lazareto, um estabelecimento portuário onde se instalavam os viajantes para verificar se eram portadores de doenças contagiosas. A alface exprime a sensação de gaiola e a fraca alimentação ali servida. A fita enlaçada e a taça de desinfetante “Phenol” remetem para o perigo da febre-amarela. O porta-lápis e a pena indicam as caricaturas e o texto, relatando as peripécias brasileiras e as recordações de Lisboa. O nariz exagerado é usual no autorretrato de Rafael Bordalo que tinha 33 anos.

Litografia sobre papel

Capa da publicação No Lazareto de Lisboa

1881

Boquilha Dr. Roux

Tartaruga, marfim e madeira

s. data

Os Tantalos da caricatura

Esta divertida BD relata uma das perseguições que o artista sofreu em Lisboa. Um admirador queria ver-se incluido nas páginas do seu jornal, comprovando o êxito da nova publicação, considerado por muitos uma das melhores. O episódio serviu de pretexto para excelentes autorepresentações, onde sobresaiem o rosto e as emoções. O caricaturista escreveu que imitou o jornal londrino Fun, numa página concerteza de J. F. Sullivan. Note-se o ajuste feito para adaptar o autoretrato e “aportuguesar” o desenho, sobretudo, o traje e o cenário. Rafael Bordalo tinha 34 anos.

Litografia sobre papel

O António Maria  

1880.08.4 

Página dedicada a «Ruy Barbo» do Pimpão

Após uma aposta, Rafael Bordalo resolveu rapar o bigode. Esta página é a resposta do artista à provocação de  “Ruy Barbo”, pseudónimo de Alfredo Ribeiro, em O Pimpão, escrevendo que o artista tinha ficado com a cara de tacho. Bordalo apresenta-se de corpo inteiro e rodeado de sete autorepresentações, supostamente, feitas por políticos que ele tinha caricaturado. O artista imagina como seria visto pelo Duque de Ávila e Bolama, Anselmo Braamcamp, Conselheiro Arrobas, Prior da Lapa, Marquês de Valada, Barros Gomes e até o Zé Povinho, figura que tinha criado! Ao seu lado, autorretrata-sde com a cabeça de tacho e faz a caricatura de Alfredo Ribeiro com a cara de “panela vidrada”, caso ele, também, rapasse o bigode! A polémica estende-se a outros números do jornal lisboeta. Rafael Bordalo tinha 34 anos.

Litografia sobre papel

O António Maria

1880.05.27

Tinteiro de Rafael Bordalo

Tinteiro
Chumbo
s. data

pincel

Pincel

Madeira e metal

s. data

Caixa de lápis litográfico Lemercier&Cie.

Cartão, papel impresso e carvão

s. data

Em Paris – Espinhos e Rosas

Esta autocaricatura está assinada de Paris. O artista acabou de pousar a mala de viagem. Apresenta-se sobredimensionado e quase a ocupar as páginas, revelando o seu enorme contentamento por se encontrar, pela primeira vez, na capital francesa. Inúmeras figurinhas atacam-lhe as algibeiras, representando os muitos serviços que exigiam a gorgeta, e voam moedas das suas mãos. Á direita, vemos tudo o que poderia fazer, como visitar os monumentos conhecidos ou ver belas mulheres e artistas famosos, entre os quais, o actor Coquelin e o pintor Carolus Duran. Bordalo viera despedir-se do seu amigo Guilherme de Azevedo, antigo colaborador literário neste jornal e que morreria no mês seguinte. Rafael Bordalo tinha 36 anos.

Litografia sobre papel

O António Maria

1882.03.23

Theatros

Vítima de uma perna partida, o caricaturista autorepresenta-se preso a uma cadeira de rodas. À sua volta veêm-se pequenas cenas do que se apresentava nos teatros e no circo de Lisboa. Um acrobata exibe as suas pernas, em diversas poses, provocando o artista, que era grande frequentador das salas de espetáculo. É de realçar o notável autoretrato psicológico, mostrando-se de cabeça apoiada nas mãos, rosto aborrecido e o olhar pensativo, imaginando todos os palcos que estava a perder. Rafael Bordalo tinha 36 anos.

Litografia sobre papel

O António Maria

1882.12.7

Apito com autocaricatura de Rafael Bordalo

Apito “Autocaricatura”

Esta invulgar autorepresentação mostra-nos o artista vestido com a bata de trabalho e fazendo uma pausa para fumar, na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. A modelação é mais expressiva, do que pormenorizada, e lembra as caricaturas modeladas por Honoré Daumier, artista françês que Bordalo admirava. No entanto, não faltou a representação do monóculo, nem o nariz grande, num corpo redondo que o peso da idade deixara engordar.  Note-se a função da peça, apitar por divertimento ou para chamar à atenção, no sentido crítico, que completa o autoretrato. Rafael Bordalo tinha 57 ou 58 anos.

Doação Helena Bordalo Pinheiro

Barro vermeho vidrado

1904 

Limas para barro

Metal

s.data

Frasco de verniz cerâmico Lefranc

Vidro, metal, papel impressos e verniz

s. data

Fruta do Tempo

O calor do verão em Lisboa deu origem a esta notável caricatura do artista e o seu gato, numa página inteira do jornal humorístico que lançara neste ano. Os dois têm um comportamento idêntico, espreguiçando-se e bocejando, quase duplicando o gesto do corpo. Este momento do dia à dia converte-se num forte autoretrato psicológico, em que Bordalo se identifica, uma vez mais, com este animal, como um prolongamento de si próprio. O caricaturista gostava de animais domésticos, sobretudo gatos, conhecidos pela sua independência e rapidez no ataque. Rafael Bordalo tinha 39 anos.

Litografia sobre papel

Pontos nos ii

1885.08.6

Prato dedicado ao Dr. Manuel Bordalo Pinheiro

Prato Dr. Manuel Bordalo Pinheiro

Em setembro de 1888, o artista sofreu com um antraz no cachaço e o irmão Manuel foi um dos médicos que o tratou. Uma divertida BD sobre a doença foi publicada no seu jornal Pontos nos ii. Em agradecimento, pintou este prato decorativo, onde vemos caricaturados os dois irmãos sobre um pé de salsa. Autorrepresentou-se com a bata de ceramista e de cabeça cortada que o médico coloca no lugar, provando que até na enfermidade conserva o humor! Toda a composição gráfica indica uma releitura da gravura japonesa. Rafael Bordalo tinha 42 anos.

Doação Manuel Bordalo Pinheiro

Barro vermelho esmaltado e vidrado

1889.01.9

Jarra dedicada a Dr. Pitta, da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro, auto-representado nesta peça única, 1888, Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha.

Jarra Dr. Pita

Em setembro de 1888, o artista sofreu com um antraz no cachaço e o Dr. Pita foi um dos médicos que o tratou. Toda a história da doença foi publicada, em BD, no seu jornal Pontos nos ii. Reconhecido, modelou esta jarra singular que lhe dedicou. Autorrepresenta-se usando a bata de ceramista e parte do corpo transformado  em peixe, ao lado de outra fauna marinha. A restante decoração imita a verguinha, correias, fivelas, etc. Esta peça é testemunho de como o caricaturista consegue fazer humor na doença. Rafael Bordalo tinha 42 anos.

Doação Maria Pita da Cunha Pessoa

Barro vermelho esmaltado e vidrado

1888.11

Medalha correspondente à condecoração da Legião de Honra da República Francesa

Insígnia de peito de Cavaleiro da Ordem da  Legião de Honra

O artista recebe esta condecoração, dada pelo Governo Françês, como reconhecimento do seu trabalho de decoração no pavilhão português, na Exposição Universal de Paris, em 1889. Esta fita  deve ser usada num traje de gala ou uniforme.  

Prata, esmalte e tecido

1889

Miniaturas das insígnias de Cavaleiro da Ordem da Legião de Honra (França) e Comendador da Ordem de Carlos III (Hespanha)

Representação de menores dimensão das condecorações atribuidas ao artista, pela decoração dos espaços portugueses nas exposições, Universal de Paris, em 1889, e Colombiana de Madrid, em 1892. Os agraciados com várias condecorações podem usar, em traje de gala, estas miniaturas suspensas de uma corrente, como é o exemplo.

Ouro, prata e esmalte

Cerca 1893

Vinte Annos Depois

Obra maior, este duplo autorretrato mostra-nos o artista, face a face, em dois momentos da sua vida. Um jovem e altivo Rafael dá lume do seu cigarro para acender o cigarro de um velho e cordial Rafael, que lhe agradece levantando o chapéu. Esta cenade rua reúne dois tempos bem identificados nas datas e nos cabeçalhos dos jornais que levam, respetivamente, a sair da algibeira: O António Maria, 1879 e A Paródia, 1903. São títulos notáveis da imprensa humorística que o artista lançou. Ainda sob o arco do tempo, os gatos confirmam a cronologia e completam o retrato do dono. Além do bom autorretrato físico e psicológico, interessa reter o que ele tem de significado ao pedir: «Faz favor, empresta-me o seu lume?», onde entrevemos o desejo de manter a chama da vida ou viva a criatividade. Rafael Bordalo tinha 57 anos.

Litografia sobre papel

Paródia, Comédia Portugueza

1903.06.11

Moldura “A Elvira”

O artista autorrepresenta-se duplamente nesta moldura para fotografia. Foi dedicada à sua mulher, por ocasião do 36.º aniversário de casamento, conforme inscreveu nas fitas em cerâmica. Modelou um jovem Rafael levantando um porta-lápis gigante e um velho Rafael,  curvo e deixando caído o seu atributo. As duas caricaturas são acompanhadas por um gato em pé e outro deitado. O porta-lápis e o gato contribuem para o retrato psicológico do artista. Nesta peça podemos ver uma experiência  para o notável autorretrato “Vinte Anos Depois” que publicou no ano seguinte e que está exposto aqui ao lado. Rafael Bordalo tinha 56 anos.

Doação Helena Bordalo Pinheiro

Barro vermelho pintado

1902.06.2

O António Maria 1884.01.3

O António Maria

Em primeira página do ano 1884, o artista publica uma vista interior do seu local de trabalho. Aí, autorrepresenta-se a desenhar numa mesa, móvel semelhante ao que pode ver aqui ao lado. Este discreto autorretrato estende-se a toda a página, onde a decoração registada é um exemplo do seu gosto pela ornamentação exuberante e da sua enorme criatividade. Os seus projectos decorativos foram reconhecidos nacional e internacionalmente. Rafael Bordalo tinha 37 anos.

Litografia colorida sobre papel

O António Maria

1884.01.3

Mesa estirador

Mesa estirador

Doação Albertina Rodrigues Supardo

Madeira e metal

s. data [último quartel do séc. XIX]