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Bordalo Decorador

Todo o ano

Rafael Bordalo Pinheiro foi um reputado decorador e criador de mobiliário. A sua obra multifacetada espelha o gosto pela execução de trabalhos decorativos, incluindo “projetos de ornamentação interior” e “desenhos de mobílias”. O núcleo expositivo “Bordalo Decorador”, organizado por Pedro Bebiano Braga, convida a conhecer esta vertente talvez menos conhecida, mas não menos importante, da obra bordaliana.

Imagem do núcleo expositivo “Bordalo Decorador”. Fotografia: José Frade/EGEAC

Mobiliário e decoração

No início da década de 1880, Rafael Bordalo Pinheiro fundou a “Empresa Bordallo Pinheiro”, em Lisboa, que anunciava a execução de trabalhos decorativos, incluindo “projetos de ornamentação interior” e “desenhos de mobílias”.

O artista envolveu-se, em simultâneo, na fundação da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. Nos estatutos, de 1883, previa-se o fabrico de “molduras para quadros e espelhos (…) peanhas, mísulas, colunas, vasos, tamboretes”, aos quais veio a acrescentar placas de encaixar e peças para iluminação.

A produção de cerâmica artística arrancou em 1885. A sua obra decorativa, influenciada pelo movimento britânico Arts and Crafts, propunha o belo no quotidiano, procurando conciliar a produção industrial com as artes tradicionais portuguesas.

A ornamentar o mobiliário cerâmico empregou motivos da natureza, tratados de uma forma muito próxima ao real. Recorreu aos revivalismos historicistas, fazendo uso de vários estilos do passado nacional, sobretudo o “Manuelino” quinhentista e o hispano-mourisco. Ainda atualizou o gosto, seguindo a Arte Nova internacional.

Moldura de relógio realizada por Rafael Bordalo Pinheiro, em 1895, para a decoração da montra da Livraria Gomes (estabelecimento localizado na Rua Garrett, em Lisboa). Fotografia: José Frade/EGEAC

O azulejo pintado e, sobretudo, o azulejo padrão foram muito usados pelo artista na decoração de espaços domésticos e comerciais. O azulejo padrão teve uma aplicação surpreendente no mobiliário, em colaboração com amigos, como o entalhador Leandro Braga e principalmente o marceneiro Frederico Ribeiro. As suas decorações caracterizam-se pela sobreabundância ornamental e o recurso a diversos estilos, por vezes, num mesmo espaço ou móvel, como era moda na época.

Enquanto decorador, contribuiu para os “interiores de arte” portugueses, sendo de salientar os interiores domésticos do Chalé de Cortiça, para seu uso nas Caldas, já desaparecido, e a sala de jantar na casa Beau Séjour, em Lisboa.

Decoração efémera

Rafael Bordalo realizou decorações efémeras e o respetivo mobiliário, onde conseguiu expressar mais livremente a sua criatividade transbordante. Foi convidado a decorar festas, jantares, quermesses, carnavais, exposições, etc.

Os seus projetos apresentam uma sobrecarga ornamental; usando plantas e panejamentos, procuram o efeito cénico. Recorreu, ainda, a peças de faiança e azulejos das Caldas, tirando partido do colorido e brilho do vidrado na ornamentação. O sobredimensionamento de objetos e figuras, ampliando o real, é um dos traços do caricaturista, fazendo entrar o jogo do humor na decoração.

As exposições individuais da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha e as exposições de representação nacional no estrangeiro são os melhores exemplos da sua ideia de português que se traduzia no pitoresco. Utilizava objetos de execução popular, flora e fauna nacionais e vistas panorâmicas do país. Salienta-se a direção artística da representação portuguesa na Exposição Universal de Paris, em 1889, e na Exposição Colombiana, de Madrid, em 1892, ambas muito premiadas.

Interior do Depósito da Avenida d’ Alma. Rafael Bordalo Pinheiro, c. 1889.