‘Rafael Bordalo Pinheiro
– De árvore em punho’
de Susana Neves
Lançamento online do livro
26 de Novembro de 2020
Adultos, Famílias, Jovens
O Museu Bordalo Pinheiro acolheu no passado dia 26 de novembro, pelas 15h00, o lançamento online do livro Rafael Bordalo Pinheiro – De árvore em punho (edição bilíngue, PT/EN), de Susana Neves, que foi transmitido via live streaming.
Partindo de uma investigação original e provocadora sobre a relação de Bordalo Pinheiro com as árvores, as flores (incluindo as silvestres), os jardins e as hortas na cidade, o livro Rafael Bordalo Pinheiro – De árvore em punho revela a quase desconhecida faceta de ecologista avant la lettre do famoso caricaturista e ceramista português.
Ao longo de cinco capítulos — “Uma flor com binóculos”, “A couve ensopada em vinho”, “Regar os bigodes”, “Fruta verde come-se com a testa” e “O pinheiro que não parava de crescer” — a autora, Susana Neves, mostra como Bordalo mereceu o reconhecimento do eminente botânico brasileiro José de Saldanha da Gama, conviveu com o famoso horticultor portuense Marques Loureiro, frequentava a Florista Francesa ao Chiado e as exposições de Paulo Plantier, um ourives especialista em rosas e murros. A todos divulgou e celebrou e através deles foi assimilando uma verdadeira expertise botânica que se traduziu pela sua invulgar capacidade de identificar as plantas conhecer-lhes a simbologia e saber usá-las nas práxis dos seus vários talentos enquanto caricaturista, cartoonista, ilustrador, ceramista, figurinista e decorador.
Cruzando a robusta e extensíssima obra gráfica e cerâmica, bem como alguns desenhos inéditos de Bordalo com a imprensa oitocentista (sobretudo, a dedicada à jardinagem e à horticultura), depoimentos de viajantes estrangeiros cultos, obras literárias de vários escritores, entre eles, Fialho de Almeida e Ramalho Ortigão, e fotografias históricas provenientes dos acervos do Museu Bordalo Pinheiro, Biblioteca Nacional de Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa – Fotográfico, Museu de Lisboa, Biblioteca Municipal José Baptista Martins (Vila Velha de Ródão), Instituto Moreira Salles (Brasil), J. Paul Getty Museum (EUA) e um empréstimo privado da Colecção Família Mouton (França), a autora constrói um ensaio visual inesperado sobre um artista irreverente que via na flora autóctone e nos muitas vezes báquicos prazeres das hortas alfacinhas os referentes de uma portugalidade ameaçada.
Simultaneamente ensaio, livro de história e de viagens, reportagem e investigação etnobotânica, esta obra bilíngue (português/inglês), de 160 páginas e mais de 100 imagens a cores, num registo bem humorado e erudito transporta o leitor para um tempo (final do século XIX e princípio do século XX) em que o então novo conceito de cosmopolitismo incluía como alicerces a defesa da arborização e o ajardinamento da cidade, e Bordalo, um dos seus principais arautos, encontrara nas plantas (autóctones e aclimatadas) a arma dilecta da sua “Botânica Política” e as musas inspiradoras do seu riso, misto de flor carnívora e lírio de espada à cinta.
O livro foi apresentado por Emília Ferreira, historiadora de arte e diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC), e Maria Amélia Martins-Loução, bióloga e presidente da Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO). O lançamento contou com a presença de José Sá Fernandes, vereador do Ambiente da Câmara Municipal de Lisboa, e da autora, Susana Neves.
Rafael Bordalo Pinheiro – De árvore em punho é uma publicação da Câmara Municipal de Lisboa (Direcção Municipal do Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia), com o apoio do Museu Bordalo Pinheiro/EGEAC.
O livro encontra-se à venda na loja do Museu Bordalo Pinheiro e na Livraria Municipal, no átrio da Biblioteca Palácio Galveias.
A presente obra resulta de uma parceria no âmbito da Lisboa Capital Verde Europeia 2020, galardão arrecadado pela Câmara Municipal de Lisboa com intuito de celebrar o Ambiente e as políticas de sustentabilidade para a Cidade. Num ano marcado por uma pandemia inesperada, de presente inquieto e futuro incerto, revisitamos a História e apresentamos-lhe Bordalo, um ecologista antes do seu tempo.
![Capa do livro 'Rafael Bordalo Pinheiro - De árvore em punho', de Susana Neves](https://museubordalopinheiro.pt/wp-content/uploads/2020/11/CAPA_deARVOREemPUNHO_RBordPINHEIROweb.jpg)
![Ilustração de Rafael Bordalo Pinheiro na contracapa do 'Almanach do Antonio Maria 1883 e 1884', os personagens caminham em direcção às flores de cravina (Dianthus).](https://museubordalopinheiro.pt/wp-content/uploads/2020/11/RBordPinheiro-AlmAntMaria1883-84webweb.jpg)
Nas últimas décadas do século XIX, não saber desenhar nem ser capaz de identificar plantas era para uma pessoa culta quase uma forma de analfabetismo. Como caricaturista genial e mestre no desenho, Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) está desde logo excluído do primeiro grupo, mas será que a representação de árvores, flores e frutos na sua obra gráfica e cerâmica revela sólidos e consistentes conhecimentos botânicos ou mero diletantismo? A resposta pode revelar-se inesperada: não só Bordalo conseguia identificar a maior parte das espécies vegetais autóctones e aclimatadas que representava, como se serve delas para fortificar o seu impiedoso ferrão de caricaturista.
Susana Neves, na introdução do livro Rafael Bordalo Pinheiro – De árvore em punho
![Estudo de arvoredo, de Rafael Bordalo Pinheiro, 4 de Maio de 1874.](https://museubordalopinheiro.pt/wp-content/uploads/2020/11/RBordPinheiro-EstudoArvores1874web-1024x849.jpg)
![“O Arvoredo do Rocio”, ilustração de Rafael Bordalo Pinheiro publicada n'O Antonio Maria, n.º 141, 9 de Fevereiro de 1882](https://museubordalopinheiro.pt/wp-content/uploads/2020/11/RBordPinheiro-ARVOREDOdoRocio-AlmAntMaria1882web-676x1024.jpg)
ilustração de Rafael Bordalo Pinheiro publicada n’O Antonio Maria, n.º 141, 9 de Fevereiro de 1882.
A viagem que a autora nos proporciona é muitas vezes alucinante, pródiga em aventuras e, como não podia deixar de ser, irónica e poética.
Podemos ter inúmeras conversas sobre este peculiar artista. Muitas sobre a sua singularidade e genialidade, outras tantas acerca da sua perseverança e talvez ainda mais sobre a sua utopia. Tudo isto este livro nos traz à colação.
E se muito já se tinha dito e escrito sobre o homem/artista, muito mais agora ficamos a saber, até pela raridade e beleza da forma como aqui nos é apresentado, quase se tornando este livro, ele próprio, uma escultura da obra do Raphael Bordallo Pinheiro.
Parabéns à autora.
José Sá Fernandes, vereador do Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia da Câmara Municipal de Lisboa
![Composição de Rafael Bordalo Pinheiro para a capa do livro 'O Real Theatro de S. Carlos de Lisboa', de Francisco da Fonseca Benevides, publicado em Lisboa, em 1883. Nesta gravura, a par de 19 personalidades do mundo artístico, figuram também várias espécies de flores, entre elas, distinguem-se uma orquídea, uma passiflora, rosas, brincos-de-princesa, cravos e margaridas.](https://museubordalopinheiro.pt/wp-content/uploads/2020/11/RBordPinheiro-1883web-1024x645.jpg)
![Foto de Susana Neves, por João Silveira Ramos](https://museubordalopinheiro.pt/wp-content/uploads/2020/11/Susana-Neves-10-pb-jsilveirar.jpeg)
Susana Neves é escritora, pintora, fotógrafa, jornalista de investigação na área cultural e investigadora de etnobotânica.
Autora do livro Histórias que Fugiram das Árvores – Um arboretum português (2012) e De Vento em Pipa – Quando a Vinha e o Homem Inventaram Lagoa (Best Wine Book of the Year, Gourmand World Cookbook Awards 2017).
A sua obra ficcional encontra-se publicada em revistas e antologias literárias, entre elas, The Radiance of the Short Story: Fiction from around the globe, 2018, e Bestiario Lusitano, 2014 (Itália).
A nível museológico destacam-se as suas conversas e conferências, a criação de jogos e oficinas artísticas realizadas na Fundação Calouste Gulbenkian, Museu do Oriente, Museu Bordalo Pinheiro e noutras instituições. As árvores que comiam papel — projecto de fotografia e etnobotânica foi lançado no Museu do Douro em 2010.
Desde 2005, expõe desenho, pintura e fotografia em Portugal e no estrangeiro. A sua obra está representada na colecção de arte da Fundação D. Luís, na colecção de livros de artista da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian e em várias colecções privadas.
© João Silveira Ramos