Eduardo Salavisa pelo traço dos amigos
9 a 29 de Novembro de 2020
Eduardo Salavisa (1950-2020) é um nome incontornável do desenho e da sua divulgação em Portugal. O seu gosto por desenhar o quotidiano levou-o a preencher dezenas de cadernos.
Foi um dos fundadores dos Urban Sketchers Portugal, um grupo com quem partilhava essa paixão.
Em 2008, editou Diários de Viagem – Desenhos do Quotidiano, onde reuniu trabalhos de 35 autores contemporâneos e o livro tornou-se como que um documento fundador do movimento dos desenhadores do quotidiano.
Para além de desenhar, o Eduardo também gostava de divulgar o desenho. Por isso organizava e participava em inúmeras iniciativas: encontros de desenho, conferências, cursos, exposições e o que mais a sua imaginação criava. Deve ser difícil encontrar uma cidade portuguesa que não o tenha recebido!
Foi assim que o seu caminho se cruzou, naturalmente, com o Museu Bordalo Pinheiro, onde partilhamos o gosto do desenho pela mão do grande mestre Rafael.
De uma forma muito empenhada e envolvida, colaborou em várias iniciativas:
- em 2014, organizou o ciclo de conversas “Humor, Desenho e Gastronomia”, com Rita Pires dos Santos
- em Outubro 2015, com a Alexandra Prado Coelho, organizou o curso A Escrita e o Desenho no Jornalismo
- desde 2016, organizou cursos de desenho diário gráfico
- em Julho de 2017, aceitou o desafio para registar a mesma Lisboa que Bordalo desenhou, do que resultou a organização da exposição desenhar por aí A Lisboa de Bordalo, incuindo a participação de vários urban sketchers.
- em 2019, coordenou as oficinas de desenho com os Urban Sketchers de Portugal Vamos desenhar com…
- entre Maio e Junho de 2019, com João Catarino, organizou a exposição Semana Ilustrada, onde expôs os desenhos que fez sobre o principal acontecimento da semana para o jornal Público, suplemento P2, secção “Semana Ilustrada”.
Mais do que visita da casa, Eduardo era desta casa.
Em Março deste ano de 2020, foi diagnosticado a Eduardo Salavisa um cancro que o viria a vitimar a 6 de novembro.
No processo da doença, quis desenhar as pessoas mais próximas, que o visitaram em casa. Para isso escolheu um cenário como acontecia nos retratos que se tiravam nas “idas ao fotógrafo” desde o final do século XIX.
A escolha para este cenário solene, que ficaria para a posteridade, foi um cadeirão que encontrara abandonado anos antes. Por ali passaram os seus amigos e todos os que quiseram estar com ele num momento tão difícil da sua vida.
Depois, a editora Afrontamento quis passar esses desenhos a livro, com o título Caderno de Retratos – Memórias Imperfeitas, e o Eduardo propôs ao Museu Bordalo Pinheiro fazer uma exposição com eles: Um Cadeirão e 96 Retratos.
Aqui, o Eduardo continuou a desenhar as pessoas que o visitaram neste espaço e o nome da exposição foi evoluindo à medida que os novos desenhos eram colocados na parede: Um Cadeirão e 96 Retratos+28+49+14
Os amigos que o visitaram não deixaram, também eles, de desenhar o Eduardo, e também esses desenhos vieram enriquecer a exposição.
Com esta página, queremos homenagear o Eduardo e o seu enorme legado em ter contribuído para uma dignidade cada vez maior do desenho e do gosto em desenhar, e assinalar o carinho com que sempre tratou este Museu, onde o desenho é figura principal.
Rafael Bordalo Pinheiro teria, com certeza, gostado muito de desenhar com ele!